Este é o Lourinho. Ele foi um dos machos da matilha da Chicona, uma loba selvagem que viveu nas ruas por 8 anos. Não permitia ser capturada nem se aproximava das pessoas. Há algumas semanas, foi atropelada e fraturou a coluna.

Foi resgatada e sua única chance de voltar a andar seria uma cirurgia. Morreu durante os procedimentos.

Embora acompanhasse a Chicona, principalmente por ocasião dos cios, ele tinha como companheira inseparável a Pretinha.

Viviam, os dois, em um aglomerado entre o Manacás e a Vila São José, onde algumas pessoas se diziam seus donos, muito embora nem sequer os alimentassem.

Em uma ocasião, o Lourinho foi gravemente atropelado e chegou a ficar 15 dias desaparecido. Chegou a ser dado como morto pela protetora que os alimentava.

Eis que, um dia, ele reaparece mancando, já recuperado, porém muito magro, demonstrando que passou dias sem comer, talvez por dificuldade de andar e procurar comida.

Logo em seguida, a Pretinha contraiu pneumonia e, depois, cinomose. Como nenhuma clínica poderia interná-la, foi tratada com antibióticos, na rua mesmo, quando era encontrada. Tinha tudo pra dar errado e a eutanásia chegou a ser sugerida por alguns médicos.

Eles dormiam ao relento, debaixo de chuva, e comiam, quase todos os dias, apenas o suficiente para se manterem vivos. Logo após a doença da Pretinha, o Lourinho chegou a ser vacinado, o que o livrou de adoecer.

Por insistência de sua protetora, a Pretinha sobreviveu, passou pelo auge da crise, ficando com algumas pequenas sequelas.

Logo após a cinomose, a Pretinha foi resgatada e levada a uma clínica, onde foi castrada e fez o pós-operatório, aguardando por um adotante. Mas ela era um daqueles cães que ninguém quer. Sem raça, porte médio e ainda com sequelas de cinomose.

Como já era de se esperar, o adotante não veio e a Pretinha foi devolvida às ruas, ao mesmo local onde o Lourinho esperava por ela.

Mas a Pretinha tinha algo especial. Ela havia lutado muito pela vida e não poderia terminar sua história assim. Ficamos conhecendo a Pretinha no tempo em que ela esteve na clínica, já que foi companheira de confinamento da Nina, uma protegida de nosso Projeto. Quando soubemos que a Pretinha havia voltado para a rua, decidimos buscar uma alternativa melhor.

Tentamos conseguir um lar provisório pra ela, o que ocorreu depois de alguns dias. A Mônica havia adotado a Estrela, também curada de cinomose. Sensibilizada com a situação da Pretinha, decidiu recebê-la em sua casa, até que um adotante aparecesse. Esperávamos um resgate conjunto, mas, agora, pelo menos um deles teria melhores chances.

Infelizmente, não seria possível o resgate duplo. A Pretinha teria uma segunda chance e o Lourinho continuaria nas ruas.

Ao chegarmos no local, avistamos de longe os dois. Haviam acabado de comer e estavam fazendo o que lobos mais gostam: cheirar. Cheiram tudo e qualquer coisa.

Lourinho 4

Quando nos viram, vieram ao nosso encontro, como se perguntassem:

__ É hoje que seremos adotados ?

A resposta era sim, mas para apenas um deles. A Pretinha seria, finalmente, resgatada. Mas o Lourinho teria que continuar na rua por mais algum tempo, sabe-se lá quanto.

Pra quem entende os sinais dos lobos, a pergunta era:

__Por que eu também não posso ir?

Infelizmente, não tínhamos a resposta. Um nó na garganta, um aperto no peito e o silêncio. Assim, nos despedimos do Lourinho.

Como explicar pra cães tão especiais que ninguém os quer? Eles trazem no DNA a verdadeira paixão por humanos. Não são capazes de entender porque a recíproca não é verdadeira.

Mas, enfim, as fotos acima foram as últimas visões que tivemos do Lourinho naquele dia. Ele continuaria na rua, esperando por um milagre. Esperando que alguém o adotasse.

Anunciamos a história, na esperança de que um adotante aparecesse. E este apareceu, mas aí, depois do resgate da Pretinha, o Lourinho deixou de confiar em nós e fugia como louco sempre que nos via chegar. Ele demonstrava não querer ser resgatado. O tempo passou e seu adotante desistiu.

Em uma manhã, a protetora que os alimentava sentiu sua falta e descobriu que aquelas pessoas que se diziam seus donos decidiram livrar-se dele.

Chamaram a carrocinha e ele foi capturado e levado ao CCZ. Passaria por um “exame clínico”, no qual viria a ser avaliada a sua “adotabilidade”.

Nem precisamos explicar o que isso significa. Exames clínicos para avaliação de adotabilidade? Sem comentários. Animais com sarna, machucados, “feios”, ou mesmo assustados passariam no “exame clínico”? Seriam considerados adotáveis? E qual seria o destino dos reprovados?

Mas o Lourinho não estava sozinho. Seu sumiço não passou desapercebido à sua protetora. Ele foi resgatado no último dia do prazo, levado a uma clínica onde foi vacinado, castrado, vermifugado, recebendo também um tratamento para a tosse canina que o havia atingido.

Depois de um tempo na clínica, o Lourinho já estava novamente em ótima forma. Tínhamos esperanças de que o adotante viesse rápido. Mais uma vez, ninguém apareceu.

Quando o visitávamos na clínica, ele nos recebia com festa, como se perguntasse: __ É hoje que ganho uma nova casa? Desisti de contar quantas vezes respondi “não” a essa pergunta.

Como de costume, procuramos tirar as fotos e depois interpretá-las. E, me dando o direito de exagerar nas interpretações, às vezes, me parecia que ele rezava, como se pedisse a protetores invisíveis que o tirassem daquele confinamento, que lhe dessem uma família, um dono. Preciso explicar que, nas fotos abaixo, não havia ninguém ao lado dele. Não saberia explicar pra onde ele estava olhando, e nem porque fechou os olhos e baixou a cabeça.

Esta semana ele teve alta médica e, mais uma vez, o adotante não veio.

Quando chegamos para buscá-lo e lhe colocamos a coleira e guia, saiu pulando de alegria (pulando literalmente).

Novamente, o silêncio e um nó na garganta. Ele estava indo para um abrigo. Ele teria ainda que esperar mais alguns dias. Ainda não era desta vez que iria para casa.

Embora muito bem recebido por lobos e humanos, abrigo não é lugar para criaturas tão especiais. Abrigos devem ser casas de passagem e jamais lares definitivos.

Mas não tínhamos escolha. Ele foi recebido de braços abertos pela Cão Viver. Logo na chegada, cuidou de percorrer o ambiente, pra depois conhecer seus novos companheiros de confinamento.

O líder da turma é o Afonso, um cão já idoso e sem nenhum dente na boca. A fêmea alfa era a Hanna, uma Pinscher legítima de 3 pernas.

Tinha também o Negão, um cão preto muito dócil e brincalhão que, por coincidência, havia também acabado de chegar na ONG. Os dois se deram muito bem.

Mesmo sabendo que ele estaria em ótimas mãos e que ali ficaria apenas de passagem, não pudemos deixar de sentir novamente um aperto no peito.

Ficamos nos perguntando quando vamos poder contar um “Final Feliz” para o Lourinho. Só podíamos acreditar que ele tinha destino certo. A vida é sempre mais eficiente que a nossa vontade de encaminhá-los. Sempre confiei nela e agora não seria diferente.

Restava-nos preparar a melhor matéria que pudéssemos, pra tentar abreviar sua estada no abrigo.

A última visão que tivemos do Lourinho e sua nova turma, quando o deixamos lá, não nos sai da memória.

Se tivéssemos a certeza de que ele entenderia, talvez nos arriscássemos a tentar lhe explicar o porquê o estávamos deixando ali, embora não tivéssemos a explicação.

Ele era especial e merecia o melhor adotante que a vida pudesse lhe enviar. O dono, ou melhor, a dona, chegou em forma de uma garotinha de 10 anos chamada Ana. Pelo menos era o que pensávamos. Ele ficou alguns meses na ONG. Neste período, conquistou alguns dos voluntários, que se empenhavam cada dia mais para proporcionar a ele o final feliz não merecido.

Em um sábado, durante uma feira, foi o Lourinho adotado. Ganhou homenagens especiais dos voluntários que assumiram sua causa, com o firme propósito de dar a ele a tão esperada segunda chance. Chegamos a comemorar a adoção e inserir sua matéria em “finais felizes.

Assim foi a narração do dia da adoção, feita por uma voluntária que o escolheu/selecionou para ir à feira.

Quando chegamos na feirinha da Cat´s & Dog´s Shop (funcionários), olhei no fundo dos olhos dele e falei: __ Eu te prometo que hoje você será adotado por uma família amorosa e Deus está com a gente. Ele bateu as patinhas no meu corpo, retribuindo com um lambeijo. ♥

O Lourinho, como todos sabem, estava sendo cuidado pela equipe da Cão Viver. Ele nunca teve um dono ou carinho, mas em seus olhos há muito amor para compartilhar e desde que o conheci, esse rapazinho foi me conquistando e claro, mais uma vez, fui adotada por um peludo.

O dia foi passando e chegou uma menina chamada Ana com seu pai. Logo se identificaram com o nosso Lobo e ali começou um longo namoro.

Não queríamos que ele fosse levado sem realmente termos a certeza que ficaria bem com outros oito cães, mas Deus estava e está conosco o tempo todo direcionando a família que queríamos. Os supostos tutores voltaram em casa e retornaram decididos em adotar o meu, o nosso Lourinho, que tanto divulgamos e que ele mesmo rezou para ganhar um lar.

O rapazinho, mais uma vez, agradeceu com um lambeijo e ali foi colocado uma coleira azul que o seguiu junto daquela garotinha, irmão e pai, felizes com o aquele anjo de quatro patas.

Eu? As lágrimas desceram e a Deus agradeci o meu pedido que foi atendido, pois Ele sabe o quanto acredito na força do pensamento positivo.

Se alguém acha que o Lourinho não entendeu as palavras de sua protetora, é só olhar as fotos dele durante a feira. Geralmente arredio, ele fazia questão se se mostrar alegre, pulando nos visitantes, dando-lhes as boas vindas. Pra quem leva a vida entre lobos, nada que surpreenda.

Lourinho na feira

Reassumimos a narração neste ponto, pra dar uma triste notícia. A Pretinha não está mais entre nós. Ela teve uma vida de princesa desde que chegou na casa da Mônica. Mesmo com sua estirpe de vira-lata de terreiro, dormia dentro de casa, sobre um sofá. A Mônica a recebeu, oferecendo-lhe lar temporário. Se afeiçoou e decidiu adotá-la.

Mas, uma grave doença impôs a ela um pesado tratamento. Tudo foi tentado mas ela não resistiu. Lamentamos muito, mas sabemos que nem todos os cães resgatados têm vida longa. Foram alguns meses, mas certamente os mais intensos e felizes de toda sua vida. Ela aprendeu, no pouco tempo em que esteve com a Mônica, as delícias da vida de um cão de estimação, no sentido mais intenso da expressão.

Ela agora conhece o melhor da vida. Este tempo com a Mônica foi indispensável. Foi a experiência que lhe faltava. Voltará mais forte, saudável e pronta para uma vida plena, do início ao fim, sem percalços. As fotos abaixo são chamadas, pela Mônica, de “momentos incríveis”.

Nos resta rezar por ela e continuar trabalhando para melhorar as coisas por aqui. Esperamos que, quando você voltar, Pretinha, encontre um mundo melhor e mais justo. A Mônica hoje é uma “protetora de animais”. Por tudo que já vimos e experimentamos, temos a convicção de que, quando você voltar, a ela será confiada a sua proteção. Volte em paz. Os protetores que atuam em outro plano farão com que seus caminhos voltem a se cruzar.

Quanto ao Lourinho, esperávamos que aquela adoção fosse definitiva. Infelizmente, este “final feliz” durou poucos dias. Os adotantes decidiram devolvê-lo, porque o garoto não é muito sociável com gatos. Com os outros cães ele foi perfeito, mas com os gatos, não era a sua praia.

Para alguns, aquela devolução era motivo de tristeza. Mas preferimos acreditar que não era pra ser. Ele merecia o melhor e o melhor viria. Se não foi desta vez, foi porque aqueles não eram os adotantes ideais pra ele.

Restava buscá-lo e levá-lo de volta à Cão Viver. Esperávamos que os voluntários encarregados dessa tarefa tirassem muitas fotos do Lourinho, mostrando a sua tristeza de estar sendo devolvido ao abrigo. Esperávamos sensibilizar outros possíveis adotantes e, mais uma vez, tentar mudar sua história.

Eis que o menino, novamente, surpreendeu a todos. Não estava triste quando deixou a casa dos adotantes, nem tampouco ficou triste quando chegou à Cão Viver. Ao contrário, fez festa, como se tivesse voltando pra casa. Foi recebido por Paco e Vitória, logo na chegada, com os quais fez muita festa.

Com o Sr. Bandeira, a festa foi ainda maior. Afinal, a saudade era grande.

Mais que em todas as outras vezes, pudemos nos certificar o quão especial é este lobinho. Pra ele, tudo está bom, inclusive a vida no abrigo. Não é que ele não tenha ambição. Ao contrário, ele tem espírito livre. Mas passou tempo demais confinado e já esqueceu a liberdade.

Definitivamente, não era essa a vida que ele merece. Não seria mais levado às feiras de adoções. Pra ele, o desfecho teria que ser outro. Ele precisava ser adotado, mas precisava ser por alguém que fosse à Cão Viver com o objetivo único de buscá-lo.

Não poderia ser adotado por alguém que o escolhesse ocasionalmente entre os outros. Ele era especial demais pra isso. Não sabíamos qual era o destino dele (na verdade sabíamos, só não queríamos parecer arrogantes), mas tínhamos a absoluta confiança de que, desta vez, o anúncio chegaria onde precisava chegar. Tinha destino certo.

Na verdade, nós sabíamos que destino era esse. Conhecemos o Lourinho naquele dia em que estivemos no local para buscar a Pretinha (ela, nós somente conhecíamos da clínica). Quando chegamos para buscá-la, vimos aquele cãozinho amarelo que estava com ela. Naquele dia, nem sabíamos que ele existia. Tiramos algumas fotos, sem perceber o que as lentes captavam. Quando chegamos em casa e descarregamos as fotos, nos deu um aperto no peito de não tê-lo pegado também. Mas nem que quiséssemos. Não teríamos pra onde levá-lo.

O melhor que poderíamos fazer seria preparar uma matéria especial e tentar conseguir um adotante pra ele. Só assim poderia resgatá-lo. O adotante apareceu no mesmo dia. O Reynaldo nos escreveu informando que ficaria com ele. Depois disso, tentei pegá-lo várias vezes, mas ele fugia sempre que ouvia o barulho do meu carro. Assim continuou até ele ser capturado pela carrocinha.

Semanas, talvez meses haviam se passado e muita coisa havia mudado. Alguns desencontros da vida impediram que o Reynaldo o recebesse naquele momento. Chegou na Cão Viver, onde ficou alguns outros meses, até ser adotado e devolvido, alguns dias depois.

Preciso confessar que, quando preparei a matéria contando que o garoto havia sido devolvido, que não seria mais levado a feiras, que precisava de um adotante especial, que em algum lugar uma matilha especial esperava por ele, tudo isso era um recado com destino certo. Na verdade, não precisava de nada disso. Bastava enviar uma única mensagem a um único destinatário, com meia dúzia de palavras: “Oi Reynaldo. O Lourinho foi devolvido”.

Soltei o novo anúncio na sexta-feira à tarde. No sábado, o Reynaldo deixou sua casa para buscá-lo, lá na Cão Viver. Estas foram as primeiras fotos do Lourinho, na Cão Viver, com o Reynaldo, e depois, já em casa.

Além das fotos, recebemos também o texto abaixo. Sem palavras. Obrigado Reynaldo por tamanha dedicação e ajuda à nossa causa. Acreditamos mesmo que virá o dia em que todos os humanos serão protetores de animais. Seu texto será capaz de ensinar. Ainda não tínhamos conseguido escrever nada parecido, com a força de mostrar às pessoas o que são os SRDs, aqueles mesmos que ainda esperam por outros Reynaldos, nos abrigos espalhados pelo mundo.

Quem haverá de explicar? Como se houvesse necessidade de explicações para o que a alma humana percebe, a racionalização não entende e o mistério do Universo cuida de manter oculto.

Qual relação pode haver entre dois desconhecidos? Acrescente-se que um deles é um lobo, um cão. Talvez o receio de uma agressão, que na maioria das vezes parte – por ironia – do ser dito racional.

Uma foto. Uma história.

Assim foi a mais recente lição de vida que aprendi com os mestres que escolhi para tentar ser um ser melhor: os cães. Um lobinho chamado Lourinho, pela óbvia denominação decorrente de ser companheiro de uma cadelinha de pelagem negra, por isso chamada de Pretinha.

Raça? A mais legítima e preciosa. A que a natureza, sabiamente, criou. Um SRD, Sem Raça Definida, ou vira-latas. Sim, latas de lixo. Até algum tempo, este era o destino inexorável de cães que, filhos enjeitados de outros ditos de “raça”, tinham como oportunidade de sobrevivência. Revirar latas de lixo. Afinal a fome é real e a necessidade de se manter alerta, vigilante, forte e decidido não deixa muitas escolhas para um cão que não tem teto. Ou coberta, comida ou banho. Carinho? Luxo. Bastaria um distanciamento para que a maldade humana não elegesse – sempre – como alvo quem só existe para ser amigo e leal.

Os SRD´s são a essência dos lobos domesticados. Livres, destemidos, autossuficientes e leais. Como lobos em matilha, reconhecessem-se mesmo sem sequer serem apresentados. Intuem. Sabem decifrar sinais e códigos que nós, pobres animais inferiores, se soubemos um dia desprezamos o aprendizado.

Isso tudo para falar de LOURINHO. Que dorme aqui a meu lado, no calor do escritório, mesmo nestas frias montanhas das Gerais. Exausto. Não pelo dia. Certamente pela existência e pela dúvida de uma nova tentativa, de um novo recomeçar. Sem saber – mas saberá – que será a última.

Como explicar, caro amigo Crispim, mais este mistério? Desde que vi a foto do olhar da mais real e profunda dor (cães NUNCA mentem!) quando você o fotografou em companhia da Pretinha, sabia que já havia estado com ele. De algum modo em algum tempo.

E o olhar! Não era só o enxergar. Era muito mais. Era a mensagem que nem em palavras um ser humano conseguiria expressar. “Por que não eu?” .  “Você vai levar minha amiga, a única que tenho, e me deixar aqui e só?” “Por que ou para que vocês apareceram em minha vida?”

Posso estar delirando  – mal de cachorreiro – mas vi (e ouvi) cada uma destas palavras naquele olhar.

E queria fazer parte da história de mudança do que o Lourinho tem que viver. Já bastava! Rua, fome, agressão, lixo, frio, indiferença e absoluto desamor. Para quem é portador de mensagens que só aos homens surdos (na alma) não conseguem ouvir.

Acompanhei a história de Lourinho. As tentativas infrutíferas de resgate. O esconder dos protetores que tentavam ajuda-lo. A adoção. A devolução. E hoje, ele está aqui.

Junto à Lua, Pepê e Hulck. Pode parecer pouco, e talvez seja, mas é só essencial.

Não quero ser descrente do mundo. Nem deixar que o niilismo me domine. Ou ainda ser o cético de Pirro acima do crente na evolução humana. Mas a vida tem-me mostrado uma face que não aceito ou não me torno simplesmente aderente. E pago o preço (no fundo é barato) por esta atitude gauche na vida.

Os três me salvaram. Pois são milhares, milhões, em cada centímetro de cada um. São os lobos que, livres, mantém a LIBERDADE e nunca desistem.

Agora são quatro. Talvez seja este último o mais arredio, carente e sofrido de todos. Mostrou-se agressivo na Cão Viver, desconfiado no carro no caminho de casa e assustado na presença da trinca dominante. Nada de excepcional. Já esperado. Aos poucos, serão quatro.

A diferença – ou detalhe fundamental – foi a procura de abrigo em mim, de modo imediato. Quase como uma cobrança: “você me trouxe aqui, você me cuida e protege!”. Ok, Lourinho, trato feito. Será cumprido.

Aos poucos deixarei que venha à tona o caráter sem comparação dos SRD’s. A LIBERDADE! Sem a qual eles não são a maravilha genética e quase transcendental que são. Será aos poucos. Passo a passo. Pegada a pegada. Para que saiba que sempre será o mesmo e que tenho orgulho de ser assim. A mim resta acompanhar, incentivar e cuidar para que a natureza faça o resto. Ou o todo.

A trinca saberá receber, aos poucos, mais um colega de vida e de opção de vida – mesmo sem escolha – que eles mesmos têm.

Assim foram as primeiras horas – sem nenhuma objetividade, mas real – desta nova dádiva que recebi. E desta vez, com a incumbência de ser mais do que fui com os três anteriores. Sei que Lourinho precisa de um “tutor”. Terá. E ele nunca saberá do orgulho que irá me proporcionar.

Em breve estarei vendo nele, o lobo oculto pelos medos e agressões da rua. E neste momento, saberei que o trabalho valeu. Que o aprendizado mútuo teve sentido.

Vou aprender muito com Lourinho. E espero poder dar a ele a chance de descobrir-se o lobo que é.

Se assim for – e será! – mais uma vez, nesta troca, sairei ganhando. Afinal, nessa interação somos nós – os adotantes – que ganhamos o presente.

Obrigado ao O Lobo Alfa, Cão Viver, a você e à Tati.

Sem saberem vocês conseguem juntar algumas pontas soltas no Universo.

Eu e Lourinho estamos juntos! Valeu!

As próximas atualizações acontecerão em outro post. É que o Lourinho agora não tem mais uma história. Ele é parte de outra história muito maior:

http://oloboalfa.com.br/pepe-e-hulck/

o-lobo-alfa-h-8

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