Meu nome é Luidi, pelo menos a partir de onde me lembro. Não sei bem onde nasci e não me lembro se já tive um dono. Eu me lembro que tinha irmãos, mas acho que eles não sobreviveram.
Um dia, alguém decidiu se livrar de mim. Acho que não era para eu ter nascido.
Eles me deixaram em uma estrada, bem longe, sem caminho para lugar nenhum. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas foram dias. Eu já estava desidratado e as pontas das minhas costelas já machucavam minha pele.
Um carro parou pra me pegar, mas eu tinha muito medo e já falei logo: _Não se aproxime que eu corro.
Então, aquele homem voltou ao carro e retornou, dessa vez com uma cachorrinha na coleira, que veio até mim, e me disse: _Está tudo bem. Pode vir com a gente.
Então, eu relaxei e permiti meu resgate. A verdade é que, mesmo que eu quisesse correr, já não tinha mais forças para isso.
Eu estava morrendo, não só de fome, mas também de uma doença conhecida como “Tristeza canina”.
Fui deitado no banco do carro, e não pude deixar de notar que aquele carro estava cheio de cachorros. Contei pelo menos uns 5, e todos pareciam de barriguinhas cheias. Curiosos e agitados com a minha presença.
A viagem foi longa, mas, ao chegar à minha primeira parada, colocaram na minha frente um prato de respeito, bem cheio.
Eu comi como se não houvesse amanhã e, pela primeira vez em dias, senti muito peso na região acima da cintura.
Mas o amanhã existia e significava banho e clínica veterinária.
Velho, na boa, naquele momento eu ainda não sabia se meu sofrimento tinha chegado ao fim ou se estava só começando.
Experimentei um trem chamado agulha. Não chorei nem nada, mas não posso dizer que gostei.
Minha barriga já estava bem redonda, e não era de verme. Eu comia muito, mas muito mesmo, toda hora. Comida é bão demais!
Tomei uns remédios meio esquisitos. Tinha uns bem ruins, e outros que vinham misturados num patê bem gostoso.
Depois da clínica, já de banho tomado, fui para uma casa, onde a Tia Lu prometeu cuidar bem de mim.
Com muita comida e os remédios certos, eu comecei a melhorar. Acho que ali eu já não corria mais risco de morte.
Poucas semanas depois do resgate, eu já era outro cãozinho, arteiro, muito ágil e esperto. Eu sou desses mesmo.
Eu não via a hora de crescer e ficar grande e forte feito os meus amigos da casa da Tia Lu.
Mas eles cresciam e eu não. Eu não entendia como alguns crescem rápido e outros continuam pequenos.
Não estava feliz com isso, mas Tia Lu me dizia que a vida estava preparando algo especial pra mim. Eu acreditei, mas que outra opção eu tinha?
Eu passei uns 3 meses ou mais na casa da Tia Lu, onde fiz todo o tratamento que precisava.
Eu não quero ser mal-agradecido, mas lá na Tia Lu, fizeram um negócio comigo que não foi legal. Falaram que castração era pro meu bem, mas eu não estava convencido disso.
Tomei remédios, vitaminas e vermífugos, até não aguentar mais, e no final, ainda me escolheram pra ser cobaia e tive que tomar algumas injeções.
De novo, aquela história de que vacinas são para o meu bem. Vá lá…
Com 6 para 7 meses de vida, eu ainda estava pequeno e o povo falava que eu não ia crescer mais.
O que eu vou fazer com esse tamanho nanico? Não consigo nem espantar ladrões.
Também não posso me enfiar em brigas, porque a galera aqui é grande e bem mais forte.
Apesar disso, a Tia Lu falava que eu tinha sorte, e que uma mãe bem especial ainda ia aparecer pra mim.
Fiquei sabendo também que minhas fotos correram o mundo, na esperança de que elas chegassem até a minha futura mãe.
E cês acreditam que tinha gente que dizia assim: _Ele até que é bonitinho!
Véi, na boa. Bonitinho é feio arrumadinho. Esse não sou eu não. Eu tinha estilo, muito estilo.
Um dia, eu tava de boa e a Tia Lu me pegou no colo, dizendo que eu tinha que tomar banho.
E aquele povo é esquisito demais. Não bastava o banho, mas me encheram de uns badulaques, e depois ficavam tirando fotos, dizendo: “Que bonitinho, Luidi, olha pra cá… Tititiu…”
Eu fechei a cara e deixei bem claro que aquilo não tava me agradando.
Sério que eu merecia isso? Até perfume passaram em mim. Eu logo saquei que tava rolando alguma coisa.
E, de novo, eu iria mudar de casa. Tia Lu me disse que minha mãe estava esperando por mim.
Mas ela vai gostar de mim com esses badulaques todos? Não dava pra ser mais normalzinho?
Topei então, né? Naquele dia, parti de encontro ao meu destino, aquele mesmo que já estava escrito desde o dia que nasci.
Na minha casa nova, tinha uns trem da hora. Comida boa, cama macia e até brinquedos.
Eu não estava muito acostumado com brinquedos, mas acho que vou me acostumar fácil com essa vida aqui.
Minha mãe se chama Julia, e acho que encontrei minha felicidade.
E sabem de uma coisa? Eu acho que enriquei. E aquele povo que me abandonou, nem adianta vir atrás de mim pra pedir dinheiro emprestado. Não vai rolar.
Fiquei sabendo também que vou ganhar um irmãozinho, daqui a uns dias. Tô muito feliz.
Eu ganho colo toda hora, e passeio muito. Oh vidinha mais ou menos!
Esta é a minha história e o meu final feliz. Prometo mandar notícias de vez em quando.
Sabem de uma coisa? Esse tal de destino tem uns caminhos bem tortos. Eu devia mesmo era ter nascido da barriga da minha mãe.
Obrigado, Julia, pela acolhida do nosso pequenino Luidi.
Que ele seja muito feliz ao seu lado e que leve muita alegria para a sua vida.
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