Eles não sabem contar o que lhes aconteceu, como chegaram ali. Cabe a nós tentar decifrar.

A Luna (o nome só veio depois) foi avistada pela primeira vez em companhia de outro cãozinho, exatamente igual a ela. Tudo indica que eram dois irmãos, ou duas irmãs, nascidas e criadas no mato.

Ela chegou ao santuário vinda de uma região de mata fechada e se refugiava ao menor sinal de proximidade humana.

Naquele primeiro encontro, os dois filhotes se refugiaram e não foram mais vistos. Dois dias depois, nova tentativa de aproximação, desta vez, de uma única lobinha solitária.

A única forma de nos aproximar dela era com o zoom da câmera. Já a parte canina de nossa família tinha autorização de se aproximar.

A postura submissa era um sinal claro de que ela tinha vindo de uma matilha, mesmo que fosse de sua mãe e irmãos.

O irmãozinho ou irmãzinha dela nunca mais foi visto. Eles se separaram naquela primeira noite.

Mostrava ter muito medo, mesmo dos cães. A vida parecia não ter sido muito amável com ela.

Seu estado de inanição estava estampado nas pontas dos ossos aparentes, que quase perfuravam a pele. Ela se aproximava da parte canina de nossa família, mas sempre com o rabinho entre as pernas.

A medida mais urgente era saciar sua fome. Os carrapatos ficariam para outro momento.

Era Junho e o frio estava intenso. Precisávamos também providenciar um abrigo.

E assim foi feito. Preparamos uma casinha com colchões e cobertores, e esperávamos que ela aceitasse a hospitalidade.

Mas a Luna não conhecia nada daquilo. Dormia ao relento, sobre um monte de areia.

Posicionamos a casinha ao lado do monte de areia, mas nem isso a estimulou a entrar.

As vasilhas com ração foram também oferecidas, mas neste caso, a fome não permitiu que ela mantivesse o orgulho.

As patinhas cheias de lama nos dava uma pista sobre seus caminhos.

Durante um fim de semana inteiro tentamos aproximação, mas ela demonstrava muito medo, e corria a qualquer tentativa de interação com a parte humana da família.

Estava claro que não conseguiríamos fazer o resgate, pelo menos não naquele momento.

Seu estado de tristeza e apatia era uma preocupação a mais. Ela parecia ter uma infestação de carrapatos e não poderíamos descartar uma possível Babesiose (Tristeza canina).

Como já era previsto, não conseguimos fazer o resgate naquele dia e precisamos retornar a Belo Horizonte, deixando a Luna sozinha, naquela área de mata.

Afinal, se tinha sobrevivido ali, agora com comida, água e abrigo à disposição, ela conseguiria esperar. Ela estava sem o irmãozinho, e para um cão de matilha, a solidão dói.

Orientamos funcionários a manterem a caminha e uma vasilha de ração, na esperança de que ela fixasse morada por ali.

Entretanto, ela não se interessou por nada daquilo. Depois que deixamos a fazenda, ficamos 15 dias sem retornar ao santuário e, durante todo este período, ela não foi mais vista.

Acreditamos que ela tivesse seguido seu caminho, buscado outro porto.

Entretanto, duas semanas depois, quando retornamos à Fazenda, ela decidiu novamente se aproximar daqueles que ela tinha escolhido como sua nova matilha.

Estava mais suja, mais magra e ainda mais triste.

Voltou a aceitar a ração, comeu como se não houvesse amanhã e ficou por ali, interagindo com os outros cachorros, buscando se integrar.

Decidimos então fazer algumas caminhadas com a matilha, e notamos que a Luna nos acompanhava, de longe.

Passamos 3 dias ali, dormindo com a porta da casa aberta e uma cama pra ela na varanda.

No terceiro dia, ela já estava mais entrosada e, pela primeira vez, entrou na casa. Puxamos sua cama pra dentro, deitamos com os cachorros no chão da sala e ali passamos a noite, na esperança de que começasse a aceitar a parte humana da família.

Não aceitou, mas permitiu uma aproximação sorrateira que possibilitou o resgate, entre protestos e choro.

O medo era tanto que ela nem se moveu durante toda a viagem, deitada em um cobertor no assoalho do carro.

Chegando em casa, deixamos que ela descesse do carro com suas próprias pernas e começasse a conhecer o novo território.

Ela já tinha feito amizade com nossos cães e foi bem recebida.

Ela ainda estava magra, mas tinha comido bem nos últimos 3 dias e as pontas dos ossos começavam a desaparecer.

Naquele primeiro dia, ela cuidou de percorrer todo o jardim, reconhecendo cada canto. Não tinha tanto espaço quanto no santuário, mas era suficiente.

Mantinha a submissão diante de nossos lobos dominantes, o que era um ótimo começo.

E para nossa surpresa, ao final daquele primeiro dia, ela já estava ensaiando brincadeiras com Clara e Shiva.

Não ficou à vontade para compartilhar a mesma cama e, talvez por respeito e submissão, não adentrou a área onde fica a caminha de suas anfitriãs.

As brincadeiras iniciais eram ainda tímidas, mas promissoras.

E desde o primeiro dia ela perecia agradecida, embora se mantivesse distante da parte humana da família.

Brincava sozinha na grama, o que nos indicava que era uma adolescente. Acreditamos que ela tenha entre 6 e 8 meses.

O controle de parasitas era urgente, pois ela tinha alguns carrapatos.

Bravecto e vermífugo foram as primeiras providências, oferecidos junto com petiscos, que ela engolia.

Decidimos adiar os demais cuidados, já que qualquer manejo, àquela altura, poderia agravar o medo dela ao contato humano.

Banho, vacinas e castração ficariam para mais tarde, depois que tivéssemos conquistado sua amizade.

Infelizmente, o tempo foi passando, ela se integrou completamente à parte canina da família, mas continuava distante da ala humana.

Quando tentávamos nos aproximar, ela se refugiava e se escondia.

A caminha macia ela aceitou, mas desde que posicionada a certa distância da cama dos outros cachorros.

O tempo passou e, mais de 30 dias depois de sua chegada à nossa casa, ainda não tínhamos conseguido interagir.

Com os outros cachorros, a adaptação foi perfeita. Corria e brincava o dia inteiro.

Em poucos dias já estava compartilhando a mesma cama com Shiva e Clara.

Os sinais da desnutrição ficaram pra trás, e a alegria afugentou qualquer suspeita de Babésia.

Clara, Shiva, Loly e Estopa formam uma matilha bem equilibrada. Foi questão de dias para que a Luna se sentisse em casa.

As brincadeiras ficaram por conta da Shiva, que tem a mesma energia e quase o mesmo tamanho dela.

Os primeiros contatos humanos foram tímidos. Começou com alguns abanos de cauda, à distância. Depois, aceitando petiscos, que vinham acompanhados de um chamego.

Precisávamos quase implorar de joelhos para que ela aceitasse nossa amizade.

No final, o amor venceu.

As brincadeiras seguem intensas, principalmente entre Luna e Shiva. Alguns desentendimentos acontecem, o que é comum entre crianças.

Logo fazem as pazes e voltam a brincar.

Luna é uma criança arteira, daquelas com energia de filhote, pronta para estragar um chinelo, uma caminha ou qualquer coisa de seu interesse e que esteja próximo de seu focinho.

Ela já reconhece o próprio nome e é uma bela lobinha, está saudável e é muito carente e carinhosa. Precisa ser conquistada e pode levar alguns dias até seus novos tutores conseguirem se aproximar.

Tem o pelo macio e lindos dentinhos brancos, já permanentes. Ela está bem e saudável, mas precisa agora de um novo caminho, com segurança, afeto e paciência.

Será entregue castrada, livre de parasitas, vermifugada e com vacinação iniciada.

Contato para adoção: (31) 3213.6205.

E-mail: crispim@oloboalfa.com.br

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