O nosso primeiro encontro foi a visão de alguma coisa que parecia ser uma casinha improvisada.

Dentro dela, havia um pote com ração, o que indicava que aquela toca era o posto de algum lobinho. Era possível sentir a vibração que vinha daquele amontoado de fibra e celulose.

Não era uma casinha. Ali estava um templo, simples como foi certo estábulo.

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Dias mais tarde, conhecemos o morador ilustre daquele recinto. De longe foi possível avistar um cãozinho pequeno, peludinho, que parecia preferir a cama de cimento.

Talvez usasse aquela casinha durante as tempestades. Ela evitaria a chuva direta, mas não o manteria seco.

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Assim que notou que estava sendo observado, levantou-se e veio curioso investigar.

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Não se mostrava arredio. Parecia bem, mas tinha algo no olho. Estava muito triste e abatido.

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Assim que se aproximou, foi possível notar que ele precisaria de cuidados médicos. A ferida no olho não estava infeccionada, mas era um ambiente bem aconchegante para bactérias oportunistas.

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Ele disse sim ao meu pedido de amizade e ali, naquele momento, selamos nossos combinados.

E que assim seja, amigo, e que seus anjos nos permitam ser a ponte entre você e aqueles que te conduzirão nessa difícil jornada evolutiva que chamamos de Vida.

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A casinha improvisada não era o que ele merecia, mas era o sinal de que alguém se preocupou com ele, e não poderíamos leva-lo sem avisar aos seus primeiros amigos.

Afinal, não poderíamos deixar preocupados aqueles que fizeram o melhor que puderam. Se um dia se afeiçoaram ao pequeno lobinho, ficarão felizes por saberem que ele terá uma segunda chance.

E foi aí que descobrimos um pouco de sua história. Paçoca, como estava sendo chamado desde que ali chegou, foi abandonado há uns 15 dias e passou a ser alimentado ali mesmo, na calçada onde foi deixado.

O punhado de ração e um pote de água fresca foram suficientes para mantê-lo ali. As chuvas forçaram a improvisação de uma casinha pra lá de precária, mas que cumpriu seu papel de abriga-lo e de fazer com que ele ficasse por ali, até que um resgate pudesse acontecer.

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Nesses 15 dias, muita coisa aconteceu. Ele chegou a sofrer um atropelamento, que por sorte não deixou grandes ferimentos.

Foi também hostilizado por outros cães que já dominam o território, mas ele é submisso demais e isso permitiu que se mantivesse inteiro.

De alguma forma, talvez guiados por outros amigos, cruzamos o caminho dele.

Foi num final de tarde que o nosso novo amigo chegou ao nosso território, sendo recebido na varanda pela Pintada, e depois pelo restante da matilha.

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Descobrimos que ele é bem sociável e apresenta ainda comportamento de filhote, sendo brincalhão e muito carinhoso. Estava muito triste e assustado, mas com um grande potencial.

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Depois de conhecer os novos amigos, foi explorar o ambiente, tomando mais liberdade do que lhe foi oferecida. Pulou onde não deveria e acabou tomando um banho antes da hora.

A correria pra se secar mostrava que ali estava um lobinho feliz, muito diferente daquele que acabáramos de recolher.

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pacoca-11Passou a primeira noite em nossa casa, junto com a matilha. Não aceitou a casinha que lhe oferecemos e preferiu dormir num canto, sobre um edredom.

No dia seguinte, visita agendada ao veterinário. Paçoca tinha uma glândula no olho esquerdo que precisaria ser removida cirurgicamente.

Fez todos os exames, que acusam estar ele em ótima forma, inclusive negativo para leishmaniose.

Iniciou um extenso calendário de vacinação e passou por duas cirurgias de uma só vez: a castração e a remoção da glândula no olho.

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Notamos também uma janelinha nos dentes inferiores. Como ele já é adulto, presumimos que ele tenha perdido esse dentinho em algum acidente, talvez o atropelamento mencionado pelas pessoas que cuidavam dele na rua.

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Quando chegou da clínica, ainda estava assustado e com dores da cirurgia. Mesmo assim, ele precisava se sentir em casa.

Pra quem não sabe, a Pintada é nossa babá oficial. É dela a tarefa de cuidar de filhotes órfãos, e também de receber e socializar outros amigos que por aqui chegam.

Nenhum lobo consegue ficar triste perto dela.

E como se entendesse nosso apelo silencioso, ela logo cuidou de chamar o Paçoca para brincar.

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Ele ainda tinha a recomendação médica de repouso. Afinal, havia acabado de sair da mesa de cirurgia.

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Mas nossa Pinta é mesmo insistente e sabe como convencer um lobinho a se render.

E logo estavam eles correndo e brincando. Ele nem se lembrou que estava costurado.

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E não demorou muito pra se transformar. Depois da farra com a matilha, ele veio agradecer.

E faz isso de uma forma bem particular.

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O sorriso de janelinha não vai se fechar. O dente perdido já era permanente e isso o deixará, por toda a vida, com essa cara de criança na primeira infância.

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E como nem só de brincadeiras vive um lobo, ele logo se interessou pela nossa Hanna. Foi paixão à primeira vista.

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Paçoca é um cãozinho que busca a companhia de pessoas o tempo todo. E basta só um pouco de atenção pra ele deitar, virar  a barriga, fazer festa, pular e brincar feito filhote.

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Mas nem tudo são flores. Descobrimos que ele é daquele estilo de lobo mais conhecido como “come quieto”. (No caso dele, nem tão quieto assim).

Tudo pra ele é brinquedo, e não entende quando falamos sério com ele.

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Paçoca é um cãozinho de porte pequeno, pesando apenas 6 quilos. Parece ser mestiço de Shih-tzu ou de Pequinês.

Ao contrário dos originais, ele é de uma docilidade única, típica dos vira-latas de pés duros.

Está feliz vivendo aqui, mas pra ele, nossa casa é apenas um lar temporário. Em breve, terá que partir.

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Quando retirou os pontos da castração, 10 dias depois de ter chegado ao nosso território, ele já estava adaptado a toda a nossa matilha.

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Já era o mais feliz de todos os lobinhos e muito agradecido. Tinha energia saltando pelas orelhas e mostrava isso o tempo todo.

Ele não parava quieto e mordia tudo que encontrasse pelo caminho.

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Um dia, decidimos drenar toda a energia dele pra testar como ele seria, quando todo esse fogo da infância passasse.

E foi aí que ele ganhou o apelido de “O Filho do Vento”.

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Para a tarefa de conduzi-lo em sua primeira expedição,  destacamos a Pintada, a única que tinha energia para dar conta do Paçoca.

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Nossa Pinta não é mais nenhuma mocinha, mas ainda se dispõe a receber bichinhos agitados como o Paçoca. Continua sendo a mais sociável dentre todos os lobos.

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E não é por outra razão que é dela a função de receber e socializar novos amigos.

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E nessa nova expedição, descobrimos um lobinho muito especial, amigo dos seus amigos, agradecido por cada momento feliz.

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Ele viveu por mais de 15 dias em uma esquina, morando em uma calçada, se abrigando da chuva num emaranhado de papelão e telha de fibra.

Mas a impressão que tínhamos é que, naquele tempo, ele não viveu nada do que deveria. Não teve tempo para experimentar a vida livre, pra cavar a terra, pra correr apenas para gastar energia, pra brincar.

Foram 15 dias de tensão e medo.

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Sentindo-se amparado, ele era outro cãozinho, de colo mesmo.

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Na expedição ao santuário, ele experimentou brinquedos novos, sabores novos.

Dessa vez, não houve nenhum encontro inesperado com outros bichinhos. Não sabemos como ele reagiria com amigos diferentes. Sabemos que, com gato, ele relaciona-se bem, pois na clínica onde ficou internado ele conviveu bem de perto com os tigres.

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Mas no santuário, ele teria a oportunidade de conhecer outros amigos, nem tão amigos assim.

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O encontro não aconteceu, mas foi melhor assim. O que precisávamos ali era conhecer um pouco mais o Paçoca e dar a ele uma experiência verdadeiramente feliz.

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E parece que conseguimos…

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E quando pensávamos que tínhamos conseguido cansar o garoto, lá estava ele, deixando claro que ainda não tinha acabado.

Parece uma criança de 4 anos, cheia de energia, que não para de dizer: _De novo…

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_De novo…

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O Paçoca não tem freio e sua energia é inesgotável. Ele precisa de donos dispostos a drenar, todos os dias, essa disposição toda. Ele já acorda pronto pra brincar.

Não seria fácil encontrar um dono ideal pra ele. Precisaria de atividades e de opções. Ossinhos (grandes) e brinquedos (resistentes) serão essenciais para ajudar a criança.

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Um pouco de vida livre, ou mesmo de passeios regulares, também seriam essenciais pra ele.

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Adorava andar de carro e passear na coleira. Parecia que ele já teve uma vida feliz. Não sabemos as razões do abandono.

Era preciso alertar os futuros donos de que o Paçoca era daqueles que “descansam carregando pedra”.

As cenas abaixo foram registradas enquanto descansávamos de uma grande caminhada que acabáramos de fazer. Tentávamos ali recuperar o fôlego para pegar a estrada de volta.

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O Paçoca já estava pronto. Não voltaria para a antiga casinha na calçada. Estava escrito que, daqui ele sairia nos braços de uma mãe muito carinhosa e disposta a transformar a vida dele.

Era um cãozinho de companhia e somente seria doado para conviver com a família dentro de casa. Precisava também de companhia em tempo integral, fosse de pessoas ou de outros cães.

E eis que surge tudo o que ele precisava. Recebemos a ligação da Edilene, que disse que queria um cãozinho de companhia, mas que fosse dócil com crianças. Ao perguntarmos quantos filhos ela tinha, a resposta era 3. Dissemos então que três crianças para o Paçoca era pouco e que ela precisaria arranjar mais alguns emprestados com os vizinhos.

Alertamos de que ele era bagunceiro ao extremo, mas todos esses alertas apenas contribuíram para aumentar o interesse na adoção. À medida que a conversa avançava, outras informações nos chegavam, inclusive de que no local existem, além das três crianças humanas, outras três crianças caninas, dos vizinhos, mas que costumavam brincar juntas na área comum.

E foi assim que o Paçoca chegou à nova casa. Na foto abaixo, Marco Antônio, Lívia e a cadelinha Súria. O sorriso largo do Paçoca era o sinal claro de que ele aprovou os novos amigos. Restava ainda ele conhecer a Gabriela, sua outra irmãzinha humana, e os outros dois amigos caninos, Bolt, um legítimo vira-lata pretinho e ainda filhote e Nani, uma partorazinha média.

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As primeiras notícias não poderiam ser melhores. Ele anda o dia inteiro atrás das crianças. Está mais comportado, ao que parece. Talvez as crianças fossem o que ele precisava, pra drenar sua energia.

Este post será usado para atualizarmos a história do Paçoca. Sempre que a Edilene nos enviar novas fotos e notícias, vamos atualizando aqui.

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Fica registrado nosso muito obrigado a toda a família, pela acolhida do nosso grande amigo.

A você Paçoca, foi uma alegria recebê-lo em nossa casa e tê-lo como parte de nossa família. E que você seja feliz, amigo. Sentiremos saudade, mas sabíamos que seria assim. A melhor homenagem que prestaremos a você é receber por aqui um outro cãozinho também necessitado de cuidados.

Ele chegará em breve e ocupará a caminha que foi sua por alguns dias. Quando partir, deixará saudade também. E que assim seja.

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