Eles não têm nada de urso, mas são o que temos de mais parecido. Por isso decidimos chama-los de Zé Colmeia e Catatau, uma duplinha bem conhecida e amada.
E a semelhança é real. A espécie foi catalogada pela primeira vez em 1792, por um naturalista que os descreveu como Ursus cancrivorus (Cancrivorus significa comedor de caranguejos).
Os nossos “ursinhos” são, na verdade, parentes próximos do Quati e são conhecidos como Guaxinins sulamericanos. O nome mais correto é Mão Pelada, mas tem também vários outros nomes: cachorro-do-mangue, cachorrinho-guaxinim, cachorro-do-mato-guaxinim, meia-noite, jaracambeva, jaguacampeba, iguanara, jaguacinim, guaxinim, guaxinim-sulamericano.
Seu nome científico é Procyon cancrivorus. Procyon, nome do gênero, é derivado do latim e significa “antecessor do cão” ou “assim como o cão”. E, foi determinado o nome científico cancrivorus devido a sua preferência alimentar por crustáceos, o qual “cancro” significa caranguejo e vorus comedor.
É um mamífero carnívoro da família dos procionídeos (Procyonidae). É parente próximo e bastante parecido com o guaxinim (Procyon lotor).
É de porte médio, medindo mais de um metro incluindo a cauda, com peso aproximado entre 5 e 8 quilos.
Sua pelagem varia de marrom escuro ao grisalho, variando ao castanho e vermelho, e há uma máscara preta em seu rosto. Sua cauda tem anéis pretos. Sua cabeça é curta e o focinho pontudo. Os olhos são grandes, redondos e quase totalmente orientados à frente e as orelhas são levemente arredondadas com cor preta e bordas brancas.
É plantígrado (que anda com a planta dos pés) e possui, à semelhança dos seres humanos, quatro vezes mais receptores sensoriais nas mãos, o que lhe garante um tato bem desenvolvido.
A habilidade de lavar os próprios alimentos é uma característica evolutiva da espécie, tendo ele as mãos sem pelos, com dedos compridos e um excelente controle motor. Usa tal habilidade principalmente para “lavar” seus alimentos, que muitas vezes são crustáceos desentocados do mangue ou de regiões lamacentas, o que explica seu nome e as habilidades das mãos.
Sua pegada dianteira apresenta cinco dígitos finos e separados que se assemelham a mão humana espalmada, com as marcas das unhas e almofadas dispostas radialmente. Sua passada é de disposição paralela. Tais características o permitem ficar na posição bípede.
Habita todo o Brasil, abrangendo também o norte da Argentina e do Uruguai, além da Costa Rica e Panamá.
É um animal solitário, noturno e terrestre, e vive próximo a fontes de água, como rios, mangues, praias, baías e lagoas. Também tem boa desenvoltura ao subir em árvores e se deslocar pelos troncos.
Produzem abrigos em árvores, ocos de árvores, tocas, bromélias ou touceiras de capim. São animais onívoros e sua dieta se baseia em frutos, anfíbios, peixes, moluscos, répteis, pequenos mamíferos, aves, minhocas, ovos, tartarugas, artrópodes e outros invertebrados. Resumindo: comem de um tudo.
Em área urbana, costumam saquear lixeiras e até residências, exatamente como seus parentes norte-americanos.
Seu território pode se estender a uma área de até 7 quilômetros quadrados. Eles não são territorialistas, de forma que territórios de mais de um indivíduo pode se sobrepor.
O mão-pelada reproduz-se entre julho e setembro, e a gestação dura entre 60 e 73 dias. Os descendentes nascem em fendas, árvores ocas ou ninhos abandonados de outras criaturas. Nascem entre dois e sete filhotes, sendo três a média.
Embora se reproduzam apenas uma vez por ano, se uma fêmea perder todos os seus filhotes no início da temporada, se acasalarão novamente e terão uma segunda ninhada.
Os machos não participam da criação dos filhotes e, enquanto cuidam dos filhotes, as fêmeas se tornam muito mais territoriais e não toleram outros mãos-peladas ao seu redor. Os filhotes nascem com seus olhos fechados e os abrem em torno da terceira semana. Entre sete e nove semanas, saem do ninho e exploram o ambiente com sua mãe. Com 12 semanas, desmamam e se separam do grupo. Alcançam sua maturidade sexual com um ano de vida. Em cativeiro, há registros de espécimes que sobreviveram por 20 anos, enquanto na natureza não vivem mais do que cinco.
Embora seja uma espécie que não esteja em risco extinção, seus números vêm caindo muito em razão da perda de habitat. Além disso, foram encontrados indivíduos desta espécie com Leishmaniose e soropositivos para Raiva, Cinomose, Parvovirose e Leptospirose, doenças que afetam os cães domésticos.
As imagens acima foram obtidas da internet. De agora em diante, a história real dos nossos personagens, com fotos reais.
Zé Colmeia e Catatau foram apreendidos pelas autoridades ambientais, sendo criados de forma clandestina por gente que ainda confunde animais silvestre com domésticos. Tudo indica que são irmãos e foram capturados juntos. São dois jovens machinhos, mas com todas as habilidades para uma reintrodução bem-sucedida.
A área onde foram soltos terá alimento abundante, além de ser protegida. Não recebe visitantes humanos e confere relativa segurança à fauna local.
Há predadores, é claro, dentre os quais destaca-se as Suçuaranas, que ali são bem frequentes.
E chegaram os dois, dentro de uma mesma caixa de transporte, que logo foi aberta às margens de uma lagoa que fica no pé do vale.
O primeiro a deixar a “toca” recebeu o nome de Zé Colméia. Ficou alguns minutos olhando o ambiente com curiosidade. Parecia não acreditar que a liberdade estivesse ali tão perto.
Depois de alguns minutos, a coragem venceu o medo a nosso aventureiro partiu rumo à vegetação mais densa.
Seu irmão colocou o focinho pra fora assim que o primeiro deixou a caixa.
Também estava desconfiado, mas parecia conhecer o ambiente.
Permaneceram ali apenas o tempo suficiente para que pudéssemos registrar seus primeiros instantes em liberdade.
Em pouco tempo, refugiaram-se entre as folhas de um bambuzal. Pareciam não acreditar que estavam “de volta ao lar”. Um lar novo, é verdade, mas ainda assim, um legítimo e merecido lar.
Ali, eles vão encontrar duas lindas meninas e cumprirão a missão para a qual vieram ao mundo.
Seus primos, quatis, também estão sempre por ali, estes sempre em banco.
Os nossos ursinhos solitários ajudarão a povoar nossas matas de mãos peladas, espécie cujos números vêm caindo muito, em razão da perda do habitat.
Naquele dia, junto com os dois ursinhos, outros amigos também chegaram ao santuário e tiveram sua segunda chance.
A nós, fica o privilégio de acompanhar histórias, renascimentos, recomeços e esperança.
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