Ele nunca teve um nome. Juninho é o nome de alguém que, um dia, decidiu convencer sua família a dar um resto de vida mais digno àquela ave que agonizava entre as grades.
O tempo de prisão foi longo, mas sempre é tempo de recomeçar. Demos a ele o nome de Juninho, como referência a quem, verdadeiramente, o salvou.
A liberdade pra ele era algo tão novo que não teve coragem de deixar as grades, com o afã de quem anseia por ela.
Naquele momento, não era exatamente a liberdade que lhe oferecíamos, mas apenas uma estadia em um recinto um pouco maior, e onde ele poderia exercitar e fortalecer as asas.
Foi com muito custo, e até um empurrãozinho, que ele deixou a gaiola de transporte e se empoleirou nas grades. Não queria deixar o que, talvez, fosse a única vida que conhecia.
E haja coragem pra se aventurar no desconhecido! Foram alguns minutos observando o viveiro, sentindo o cheiro que vinha da mata.
Os dedinhos continuavam grudados na grade, com medo de tentar algo novo.
Precisou de um empurrãozinho pra escalar um toco logo à frente.
Apesar das dificuldades, ele parecia bem. Escalou e se posicionou bem no alto, de onde poderia ver a amoreira logo ao lado, o telhado ao fundo e bem abaixo uma bela lagoa.
Longos minutos se passaram, quando algo aconteceu, pra nos mostrar que havia ainda algo vivo dentro dele, que os anos de escravidão não apagaram.
Como se ali estivessem pra dar as boas vindas, um casal de maritacas pousou em um galho alto, em uma árvore bem ao lado do viveiro.
A chegada dos parentes não passou desapercebida e logo o Juninho passou a bater as asas e vocalizar sem parar, deixando claro que o instinto de grupo ainda estava ali.
Isso também nos mostrou o quanto de covardia existe em um cativeiro.
É essa a vida que queremos pra você, Juninho. Mas você precisa agora fazer a sua parte e bater muito essas asas. Precisa se fortalecer, pra conseguir voar alto e acompanhar seu novo bando.
Ele chegava a se contorcer procurando pelos novos amigos, se é que poderiam ser chamados assim.
E quando conseguia avistá-los, ou quando os nativos vocalizavam em resposta aos seus chamados, ele se agitava ainda mais.
As árvores no entorno do viveiro recebem diariamente a visita de outros psitacídeos. Ora chegam em casais, ora em pequenos bandos.
O Juninho nos mostrou nos dias seguintes que sabe voar. É capaz de voar o viveiro todo, mas tem preguiça e acaba dando preferência para usar as pernas.
Quase trinta dias se passaram desde a sua chegada ao santuário, e ele não está nem perto ainda de buscar a liberdade.
Posicionamos os comedouros com suas sementes preferidas em pontos onde ele só alcança com as asas. Essa foi a forma de forçarmos o uso das asas. Ele precisa se fortalecer.
Não teremos pressa de soltá-lo. Nos próximos dias, o Santuário receberá mais um grande lote de animais apreendidos do tráfico. É possível que entre eles tenha algum da espécie do Juninho, com quem ele possa formar um bando, antes mesmo de ganharem a liberdade.
Seguir para a vida livre em grupo é sempre mais seguro.
Atualizaremos a história nos próximos dias, mostrando a chegada dos novos amigos e a soltura. Se possível, tentaremos registrar seus os primeiros passos da liberdade.
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