Meu nome é Sheik. Eu já tive uma família, que um dia acreditei que me estimasse. Eu já fui alegre, arteiro e cheio de vida.
Um dia, adoeci. Parei de andar, perdi o afeto e a atenção de minha família. Passei a viver jogado em um canto.
De tentar me arrastar, acabei de ferindo. As feridas cresceram e ficaram cada dia maiores. Eu chorava dia e noite, mas ninguém me ouvia.
Um dia, acharam que não mereciam conviver com todo aquele sofrimento e decidiram colocar fim na minha história.
Fui levado pra uma clínica veterinária, para que eu pudesse dormir. Queriam que eu dormisse para sempre.
Eu não tinha sono, mas sentia muitas dores e dormir me pareceu uma boa escolha.
Mas umas tias decidiram que eu merecia um diagnóstico, uma tentativa.
E lá se foram alguns meses desde então. Fiz muitos curativos, tomei muitos banhos, passei a ter companhia todos os dias, tomo banho de sol, fico deitado na sombra, tenho água fresca e até comida a hora que eu quero.
Há alguns dias, ganhei uma engenhoca bem esquisita. Dizem que aquilo vai me ajudar a caminhar sozinho e ter mais independência, mas confesso que não estou botando muita fé.
O defunto era maior e sobrava gambiarra naquela cadeirinha. Tenho me esforçado, com a ajuda da tia Julia (Julia Pinheiro Tomich Rocha – Fisioterapia veterinária). Mas eu ainda preciso de uma cadeirinha que seja mais adequada ao meu tamanho.
Minhas feridas já estão quase fechadas. Só alguns pontinhos ainda insistem em aparecer, mas está claro que não posso mais ficar em piso áspero.
Aqui na clínica eu tenho companhia e quem olhe por mim, mas à noite e nos finais de semana, eu fico por minha conta e risco.
Aprendi sobre afeto verdadeiro. Poderia dizer até que aprendi a amar, mas amar é coisa que os cães já nascem sabendo.
Gosto de outros cães e sou indiferente aos gatos. Amo verdadeiramente as pessoas, pelo menos agora tem sido assim.
Sou manejado toda hora, pra fazer xixi, pra trocar de posição, pra tomar banho de sol, pra voltar pra sombra, pra me aproximar da comida, da água, pra deitar.
É estranho não ter vontade própria, mas meus novos amigos têm se esforçado pra adivinhar meus desejos.
De qualquer forma, o manejo é muito bom. Sentir o toque de mãos carinhosas é especial pra mim.
Eu me sinto feliz aqui, mas viver em uma clínica veterinária não é bom pra nenhum cachorro.
Eu queria uma família, uma mãe, alguém que passasse comigo todos os dias, todas as noites, e que amenizasse minha dor, que sentisse o que eu sinto.
Meus amigos dizem que costumo ficar olhando para o vazio, como se procurasse alguma coisa.
Também tenho amigos invisíveis, que me contaram coisas importantes. Quando todo esse sofrimento começou, eu não me conformei. Cheguei a me revoltar, mas aí, vieram as explicações.
Cães não têm carmas e não “pagam pecados”, mesmo porque, não temos pecados.
Contudo, às vezes, nossa dor é o caminho para ensinar aos homens e ajudar na evolução deles.
E é exatamente isso que estou fazendo aqui. Eu tenho uma missão. Talvez o meu sofrimento não termine, mas a partir da minha história, muitos cãezinhos que estão esquecidos no fundo dos quintais, ou em um canil, ou num canto qualquer, venham a receber mais atenção.
Águas serão trocadas com mais frequência, comida será disponibilizada e, quem sabe até, consultas veterinárias se tornem mais frequentes.
Um dia, num passado bem distante, alguém morreu na cruz pra ensinar coisas boas. Se todo esse sofrimento é minha cruz, que ela transforme vidas caninas.
Talvez não haja mais tempo pra transformar a minha vida, mas tanta dor precisa fazer algum sentido.
Se a adoção chegar pra mim, será especial. Mas vou entender se nada acontecer.
Não é fácil cuidar de mim. Eu ainda me lembro do tempo em que corria, passeava, brincava.
Hoje, os cuidados comigo exigem renúncia, compromisso e muita vontade de me amar.
A cadeirinha de rodas talvez me ajude a ficar mais seco e não ter tantas assaduras.
Eu ainda não tenho a cadeirinha. Eu preciso de uma bem especial, que custa mais caro e meus amigos já têm gastado muito comigo.
Dizem que sou bonzinho, carinhoso, e que não esboço qualquer reação, mesmo diante de todo o desconforto do mundo.
Como não ser grato a mãos tão carinhosas? Eu sei que estou entre amigos. Nenhum desses meus novos amigos é responsável pelo que me aconteceu.
Os banhos me aliviam as assaduras. Talvez, depois que minha cadeirinha chegar, os meus banhos se tornem menos frequentes.
Sei que vou precisar de muita fisioterapia também, pois até a mobilidade de minhas pernas dianteiras estão comprometidas.
Ainda não tenho um diagnóstico. Talvez meu problema seja congênito. Minha mobilidade foi se perdendo pouco a pouco, e por um tempo, só piorava.
Agora, com a fisioterapia, uma luz no fim do túnel se acendeu. Ainda não sei o que posso esperar da vida, mas seja como for, cachorro vive pouco. Talvez tudo isso esteja acabando.
Um dia, quero poder voltar a correr e brincar. E mais amigos invisíveis já me disseram que um paraíso me espera.
Não quero paraíso agora. Partir agora seria desperdiçar uma vida inteira. Eu preciso aprender sobre afeto, cuidados, carinho.
E eu tenho me dedicado. Sinto gratidão e verdadeira adoração pelos amigos que a vida me trouxe.
Um dia, tudo isso vai passar, e quando esse dia chegar, espero ter deixado um mundo melhor por aqui.
Não sei o que a vida ainda me reserva. Queria não precisar de muito e ser capaz de caminhar com as próprias pernas, mas isso está distante demais.
No momento, eu preciso de ajuda, tanto daqueles mais próximos, que me dão banho, trocam meus curativos e me colocam e me tiram do sol, mas também de amigos mais distantes, que possam me ajudar com outras necessidades.
A cadeirinha de rodas é o mais urgente, mas eu preciso de fisioterapia, de acupuntura, de tapetes higiênicos, de pomadas, fraldas, ração e algumas coisas mais.
Petiscos não chegam a ser uma necessidade, mas se alguém quiser trazer pra mim, eu vou gostar. Pode colocar na lista: Patê, salsicha, churrasco, bifes, frango desfiado, peru e chester (o que sobrar da ceia), carne ao molho e biscoito de polvilho. 🙂
Meus amigos até fizeram uma vakinha pra segurar minhas contas por um tempo:
Hoje eu sou mascote da Veterinária Alípio de Melo. Não quero ser mal agradecido, mas eu ainda sonho em ter uma casa, uma mãe de verdade e, quem sabe até, uma família.
E que tudo isso não seja em vão. Virá o dia em que todos os homens vão entender o que há por detrás do olhar de um lobo.
Contato: Veterinária Alípio de Melo: (31) 3474.5044.
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