Pela primeira vez, não sabia por onde começar. Talvez, colocando pra fora o que senti na tarde de domingo (05/08/2012). Angústia, desespero, sentimento de impotência, tristeza.
Caos, sujeira, fome, morte, miséria humana. Estas palavras descrevem um pouco do que vi.
Cheguei em casa, deixei a máquina descarregando e fui pra varanda, buscar o ar que parecia faltar. Realmente, não sabia por onde começar.
Melhor mostrar algumas cenas e depois tentar descrever histórias isoladas.
No dia 05/08/2012, pela manhã, recebi um pedido de socorro. Um amigo que já me conhecia, e já me havia ajudado em alguns resgates, me relatou a história de uma senhora chamada Luzia, que havia recolhido alguns animais abandonados pelos vizinhos.
Ela não tinha conta bancária, não tinha profissão, não tinha instrução e nem recursos. Até aí, nada diferente da história de muitos protetores, que sacrificam seus parcos orçamentos para salvar vidas.
Segundo o relato, essa senhora estava precisando desesperadamente de ajuda para doar seus animais, já que não tinha condição de cuidar deles. Isso já nos indicava que não se tratava de uma colecionadora. Ela tentava doar, mas não tinha pra quem. Não sabia o que é Internet, não tinha telefone, procurava doar de boca em boca, mas não conseguia adotantes sequer para os filhotes.
Estivemos no local com a intenção de fotografar os animais e anunciá-los.
Mas, ao chegarmos, nos deparamos com ninhadas de 7, 15, 60, 90 e 120 dias. Nem todas numerosas, já que poucos sobreviviam.
Era difícil tentar descrever. Um cenário de guerra, animais mortos, famintos e misturados a meio à sujeira que cobria todo o terreno.
O cheiro não aparecia nas fotos. Aliás, as fotos não foram capazes de mostrar tudo. O local parecia um esgoto a céu aberto, cortado por tábuas de madeira, usadas como passarelas, onde os animais conseguiam se deitar. São muitos os pontos de alagamento.
Segundo a Sra. Luzia, eram minas d’água que estavam por todo canto no terreno. Os animais tinham livre acesso ao barracão, o que mostrava que vivem todos, cães, gatos, galinhas, pombos e humanos no mesmo ambiente, não havendo diferença entre o que estava do lado de fora ou de dentro do barracão.
Pelo terreiro, pelo menos meia dúzia de sofás velhos e rasgados, que tanto serviam de ninho para as galinhas, quanto de armadilhas para os cães.
Ficamos imaginando o que fazer, por onde começar. Pensamos em uma caçamba pra tirar o entulho. Vimos cães comendo excremento de galinhas. Sugerimos, de início, retirar as galinhas, mas a Sra. Luzia nos disse que era com a venda dos ovos das galinhas que ela alimentava os cães, comprando uma ração conhecida no comércio local como “mexidão”.
Por aí se via o que eles comiam, além dos excrementos. Trata-se de uma mistura com as sobras das piores e mais baratas rações do mercado. O preço desse mexidão é de aproximadamente R$ 1,00 o quilo.
Não dava pra pensar em retirar as galinhas, enquanto não diminuirmos o número de cães. As histórias que ouvi e presenciei, no tempo em que estive lá fazendo as fotos, são angustiantes, pra dizer o mínimo.
O melhor que poderiamos fazer, naquele momento, seria tentar descrever e angariar ajuda pra retirarmos os animais de lá. Se conseguirmos retirar pelo menos os filhotes e castrar os adultos, já seria uma valiosa ajuda.
Algumas imagens são fortes, embora insuficientes pra mostrar tudo.
Quando chegamos, levamos um pacote de ração, o único que conseguimos encontrar no domingo à tarde. Havíamos sido informados de que os cães estavam sem nada pra comer e o mínimo, antes mesmo de conhecer o local, seria garantir-lhes a comida do dia. Levamos um pacote de 8 kilos, sem sequer saber quantos animais esperavam por ela.
Eles avançaram na comida. Apesar da fome e alguns poucos rosnados, não vimos sinais de agressividade. Todos comeram, respeitando evidentemente a ordem hierárquica. Primeiro o macho alfa, depois os menos dominantes, as fêmeas e, por último, os filhotes. A ração deu para todos.
O último a comer foi o Alfredo, um filhotinho de aproximadamente 2 meses, único daquela idade, certamente único sobrevivente de sua ninhada.
Em meio ao caos, ele ainda encontrava tranquilidade pra dormir, em um colchão esburacado. Em sua ingenuidade de filhote, não conhecia outra realidade além daquela. Não sabia que merecia uma vida melhor.
De todos os filhotes, dois em especial nos chamaram atenção: Lina e Carol. Lina (mais tarde batizada de Ariel), por ser a mais debilitada. Muito magra, estava claro que ela estava sendo comida viva por vermes e parasitas. Foi ela o filhote que flagramos comendo excrementos das galinhas. (Infelizmente, ela não sobreviveu).
Não por acaso, mesmo já crescida, continuava a receber os cuidados de sua mãe. Ela parecia saber que a pequena não teria futuro.
A outra, a Carol, uma mestiça de Poodle muito pequena. Ela não parecia ter qualquer grau de parentesco com os demais.
Dona Luzia nos disse que ela era a única sobrevivente de sua ninhada e que, depois dela, sua mãe chegou a ficar prenhe novamente, dessa vez do grande macho alfa. Havia morrido no parto, com a barriga repleta de filhotes e sem forças para pari-los. Isso teria ocorrido no dia anterior à nossa chegada.
Carol chegava a se deitar e ficava quietinha, esperando que D. Luzia lhe tirasse alguns carrapatos. Esses pareciam ser os raros momentos em que ganhava carinho. As patinhas sujas de barro podre refletiam o caos em que vivia.
Quando achávamos que não tínhamos mais nada pra mostrar, uma cena lá nos fundos nos cortava a alma. Em meio a tantos lobos, um tigrinho, ainda filhote, deitado em uma ilha de escombros, atolada em um lamaçal de sujeira, cujo cheiro e o aspecto eram indescritíveis.
Ele talvez tivesse mais chances. Quando crescesse um pouco mais, poderia sair pelo muro e fugir daquele inferno, tentando a vida nas ruas. Não era o que ele merecia, nem o destino que aceitaríamos pra ele. Nosso objetivo era que ele também tivesse uma segunda e digna chance.
Os filhotes eram todos muito parecidos. A explicação era uma só. Eis o macho alfa daquela matilha. Negão é um cão grande e forte. Era dele a liderança da matilha e a tarefa de fecundar as fêmeas. Claro que castração não existia naquele lugar. Nenhum dos animais era castrado.
Tico e Tica são filhotes de 3 meses. Nesta ninhada, 5 sobreviveram, o que é um milagre naquelas condições.
Dentre os filhotes, Zulu era o mais velho. Com idade aproximada de 6 meses, também único sobrevivente de sua ninhada. Ele disputava espaço com as galinhas, levando bicadas nas orelhas.
Depois desses, duas outras ninhadas ainda de olhos fechados, com 7 e 15 dias.
Milena era a primeira mãe. Peludinha e porte pequeno a médio. Parecia uma mestiça de Collie. Muito dócil e carinhosa, foi a responsável por uma das cenas mais difíceis que já presenciamos.
Em um canto, ela cuidava de três filhotes, todos malhados de branco e preto, acusando o DNA paterno do grande macho alfa.
Cuidava dos pequenos com um carinho que poucas vezes vimos em uma lobinha.
Enquanto fazíamos as fotos, D. Luzia remexia os panos, procurando por um quarto filhote. Afinal, eram quatro. Onde estaria o outro?
A pequena Milena (após o resgate passou a ser chamada de Kate) mostrava-se inquieta. Foi aí que D. Luzia decidiu procurá-lo em um sofá rasgado que estava jogado próximo ao ninho. Enquanto o sofá era virado e remexido, a mãe ficava todo o tempo acompanhando o que parecia ser um trabalho de resgate.
Lá dentro daquele emaranhado de espuma e pano em frangalhos, o quarto filhotinho, já sem vida. É possível que a mãe tenha subido no sofá com o filhote e o tenha deixado cair nos buracos abertos. Ninguém deu falta dele a tempo e ela não soube ou não conseguiu pedir socorro de uma forma que os humanos pudessem entender.
Assim que o pequeno foi levado para um saco que estava em um canto, em meio a entulho e restos de madeira, a pequena Milena voltou para os filhos que ainda lhe restavam, oferecendo-lhes as tetas, como se tentasse compensar alguma coisa.
Em outro canto do terreiro, mais uma ninhada. Estes, com menos de 7 dias de vida. Todos malhados, irmãos por parte de pai dos outros mais velhos. Mais numerosos porque, em apenas uma semana, ainda não havia tempo hábil para as rotineiras baixas.
Aliás, enquanto tirávamos as fotos dessa última ninhada, uma rápida conferência de D. Luzia a fazia separar mais um corpo, retirado com a desenvoltura e naturalidade de quem tem muita experiência. Mais um filhote morto, colocado no mesmo saco pra onde foi levado o primeiro.
Não me atrevi a olhar dentro do saco, nem mesmo quis perguntar se havia outros, separados antes de minha chegada.
Dentre os adultos, eram ao todo 6, entre machos e fêmeas.
Em nossa despedida, Dona Luzia nos agradeceu e nos disse que fazia 30 dias que estava rezando sem parar, pedindo que Deus lhe enviasse ajuda.
Ela nos olhava como se visse os salvadores de tudo aquilo. Infelizmente, não podíamos fazer muito. No primeiro dia foi a ração, no dia seguinte providenciaríamos o vermífugo e as vacinas, mas urgente mesmo seria salvar aquelas vidas. Tirá-los de lá o quanto antes.
Não tínhamos pra onde levá-los. A solução seria encontrar adotantes, aos montes. Um a um seriam salvos a cada adoção. Se conseguíssemos salvar pelo menos os filhotes, já seria muito.
Restava-nos passar o resto do domingo e a madrugada de segunda, se necessário, organizando as fotos e montando a mais urgente de todas as matérias que já publicamos. Pela primeira vez, precisaríamos de ajuda, pra tudo. Faltava ração, vermífugo, vacinas, casinhas, panos velhos e, muitos, muitos adotantes.
Precisávamos de lares temporários para as duas fêmeas que ainda amamentavam, e também para os filhotes desmamados, para serem retirados de lá até a adoção. Precisávamos de ajuda na castração imediata do macho adulto.
Ganhamos algumas vacinas no mesmo dia, mas só os adultos puderam ser vacinados. Os filhotes precisariam ser vermifugados e receber pelo menos uma semana de boa alimentação. Precisavam ser fortalecidos para receber as vacinas. Precisávamos de um veterinário que se dispusesse a ir ao local analisar a situação e, se fosse oportuno, aplicar as vacinas.
Toda ajuda seria muito bem-vinda. Não tínhamos como assumir tudo aquilo sozinhos.
Soltamos a matéria na esperança de termos conseguido transmitir o que vimos e sentimos naquela tarde de domingo, dia 05/08/2012. Ainda não tínhamos visto nada parecido com aquilo.
Assim que soltamos a matéria, recebemos muitas ofertas de ajuda, de todo tipo. Em razão da disposição das pessoas em ajudarem e se informarem sobre o andamento dos trabalhos, decidimos usar este link para as atualizações, bem como para prestação de contas, quanto à ajuda recebida.
Aqui, pra evitar extrapolar o limite de fotos para impressão, os recibos serão identificados apenas por Código. Assim, a quem se interessar, basta seguir o link acima e identificar, pelo código, o recibo correspondente.
Para medidas emergenciais, adquirimos um saco de ração de 25 quilos e vermífugo, cuja conta ficou em R$ 182,00 (comprovante abaixo). Adquirimos também 20 seringas descartáveis, ao preço total de R$ 40,00, para a aplicação das vacinas. Estes custos iniciais foram suportados por nós.
Código: DL 01
Recebemos por doação da Eliana Malta, doses de vacina óctupla, cedidas pela Cão Viver, que foram suficientes para todos os adultos. Dariam também para os filhotes, se eles estivessem em condições de receber a vacina. Mas os pequenos estavam fracos demais e teriam que esperar mais alguns dias.
Recebemos de doação, logo no primeiro dia, um segundo saco de ração de 25 quilos, enviado pela Mariângela Rossignolli. O consumo diário era de aproximadamente 5 quilos, o que nos garantiu ração suficiente para os primeiros 10 dias.
Chegamos a eleger um ponto de coleta, a Clínica Veterinária Amigo Fiel, da Dra. Telma, que se ofereceu para receber os donativos e também nos ajudar. As ofertas de doação eram muitas.
Além de ração para os animais, D. Luzia precisava também de cestas básicas, mantimentos, material de limpeza e higiene. Os humanos também passavam dificuldades. D. Luzia deixa de comer, mas não deixa de alimentar os cães.
Muitas pessoas manifestaram o desejo de ajudar, mas, em razão da distância, somente poderiam doar dinheiro. Embora tenhamos por critério não fazer campanha de arrecadação, entendemos que as ofertas não eram direcionadas e nós. Por isso, toda ajuda seria muito bem vinda.
A forma que encontramos de receber as doações em dinheiro foi destacar uma conta bancária exclusiva pra isso, o que facilitaria a transparência e a detalhada prestação de contas. Na ocasião, esclarecemos que, por razões que não precisariam ser relatadas, NÃO faríamos repasse de qualquer valor em dinheiro à Sra. Luzia.
Entretanto, tão logo conseguíssemos resolver o problema dos animais, se houver dinheiro suficiente, intencionávamos melhorar as condições de vida daquele lugar. Este link seria periodicamente atualizado, para a prestação de contas e para que as pessoas pudessem acompanhar os trabalhos.
ATENÇÃO. NÃO ESTAMOS MAIS RECEBENDO DOAÇÕES.
Muito obrigado a todos que ajudaram. Estamos concluindo os trabalhos.
Segue a prestação de contas.
Destacamos para depósito a Conta Poupança nº 16477-6, junto à agência 3075 do Banco Itaú. Referida conta possuía saldo de R$ 406,79 e não receberia quaisquer depósitos por parte da correntista, nos próximos dias. Desta forma, qualquer depósito que nela entrasse, ultrapassando o saldo já existente de R$ 406,79, seria dinheiro de doação para ser empregado neste caso. Desta forma, com os extratos da referida conta, conseguiríamos uma prestação de contas transparente e precisa.
Código: DL 02
DESTINO DOS ANIMAIS
Dia 06/08/2012. Três filhotes foram resgatados e encaminhados à Clínica Amigo Fiel, ficando sob os cuidados da Dra. Telma, acima.
Carol, a mestiça de Poodle, permaneceu na clínica por 5 dias, até seguir viagem para Santa Luzia, onde ficou aos cuidados de Cristina e Luciana, protetoras que assumiram-na. Arcaram com todas as despesas com vacinação, consultas, exames e castração. Depois dos procedimentos, esperava-se que fosse a Carol disponibilizada para adoção.
Mas aquela menina era especial demais. Conquistou suas protetoras, que decidiram ficar em definitivo com ela.
Está hoje feliz, como mais uma integrante da matilha de Cristina e Luciana.
No mesmo dia em que resgatamos a Carol, decidimos assumir o Alfredo. Era o menor filhote, dentre os já desmamados. Seria levado para a mesma clínica, para a faxina inicial. Entretanto, quando chegamos lá, percebemos que haviam dois Alfredos. Dois filhotes de mesma idade, mesma cor, muito parecidos. Na confusão de domingo, não percebemos que eram dois.
Não tivemos coragem de escolher um e acabamos resgatando os dois. Eles foram cuidados pela Dra. Telma. Foram vermifugados no dia 06/08/2012 e receberam a primeira vacina no dia 11/08/2012.
Dia 07/08/2012, Terça-feira. Recebemos uma ligação de uma protetora que decidiu ajudar, em conjunto com o Dr. Gilson Rodrigues, médico veterinário, que se dispôs a doar uma tarde inteira para a faxina inicial. Assumiu toda a responsabilidade médica do caso, comprometendo-se a ajudar até que o último animal fosse retirado daquele inferno.
Gilson é um médico veterinário com experiência nos casos mais difíceis. Sua clínica (VetSaúde Medicina Veterinária Domiciliar) é móvel e atende somente em domicílio, um trabalho que garante maior conforto aos animais. (Fone do Dr. Gilson. 31.9337.8585).
Estivemos no local durante toda a tarde de terça-feira, dia 07/08/2012. Com a ajuda de alguns amigos, o Gilson conseguiu arrecadar R$ 1.045,00 (Lúcia: R$ 240,00 / Márcia: R$ 100,00 / Juliana e seu pai: R$ 400,00 / Flávio: R$ 205,00 / Cynthia: R$ 100,00 – nomes informados para fins de prestação de contas). Com este recurso, ele pagou medicamentos para as fêmeas por ele resgatadas (em lactação) e exames para 12 animais, além da castração para 5 cães adultos (um macho e quatro fêmeas).
Além de ótimo veterinário, o sujeito também entende de administração financeira. Claro que, pra conseguir esta façanha, todo o seu trabalho como médico foi voluntário, sem qualquer recebimento. Assumiu a responsabilidade médica do caso, não poupando tempo, trabalho e disposição. Sem palavras pra agradecer.
Na ação do dia 07/08/2012, todos os animais que ainda estavam lá foram vacinados e vermifugados. Foi também colhido sangue dos cães adultos (Sete ao todo) e dos filhotes de 3 meses (outros cinco). Foram todos vermifugados e os adultos receberam a primeira dose da óctupla.
Os filhotes de 3 meses não puderam ser vacinados, porque estavam muito magros. Receberam apenas o vermífugo e esperarão alguns dias para receberem a vacina. Eles eram a maior prioridade. Precisariam de um lar temporário onde pudessem se recuperar. Eram três fêmeas e dois machos.
As mães com filhotes mais novos receberam um presente. Foram resgatadas pelo Dr. Gilson e levadas para a casa de uma protetora da Pampulha, que as recebeu, reservando para elas um quarto de sua casa. O Dr. Gilson, veterinário que já atende os animais dela, seria o responsável pela assistência médica.
Infelizmente, da primeira ninhada de 6 filhotes recém nascidos, no dia do resgate encontramos apenas 2, sendo um já muito debilitado. As baixas naquele ambiente aconteciam muito rápido. No dia do resgate, acreditávamos que o filhotinho cinza que aparece na terceira foto acima, não veria o dia seguinte.
Durante o percurso até a nova casa, os pequenos foram acomodados em uma caixa de papelão, no banco da frente do carro. A mãe foi atrás, chorando durante todo o tempo.
Precisávamos torcer muito para que, pelo menos um dos filhotes sobrevivesse. Para a mãe, seria penoso demais despedir-se de todos. Infelizmente, foi o que aconteceu. O filhotinho cinza morreu na mesma noite do resgate e o último, branco e preto, despediu-se da vida às 10:30 horas do dia 08/08/2012.
Lamentamos muito, mas precisávamos encontrar uma explicação e motivos pra seguir em frente. A melhor explicação era de que os pequenos vieram ao mundo pra salvar a mãe. Esta, uma menina verdadeiramente especial. Não fossem pelos filhotes, ela não teria sido resgatada no dia 07 e teria continuado naquele inferno. Agora, triste e abatida pela partida dos pequenos e com as tetas repletas de leite, mas amparada e protegida por uma protetora tão especial quanto ela, a quem só podemos dispensar gratidão e admiração.
Nas fotos abaixo, a Marronzinha na nova casa, já sem os filhotes, e as fotos que ficaram dos 7 anjos que não tiveram chance de sequer aprender a abanar o rabinho.
A mesma casa que recebeu a Marronzinha, abrigou também a outra mãe, Milena e seus três malhadinhos. Estes tiveram mais sorte. Estavam fortes e saudáveis. Todos vingaram. No vídeo seguinte, os primeiros momentos da Milena e seus filhotes, já no novo abrigo. http://youtu.be/vDvl5-Rnf9Y
Temos ainda estes outros vídeos, que recebemos dia 12/08/2012 e 17/08/2012, exatos 5 e 10 dias após o resgate das mães. Eles mostram como estavam as duas mães e os filhotes que sobreviveram. A evolução de um vídeo para o outro é grande. Milena e Marronzinha receberam novos nomes. Elas são hoje chamadas de Kate e Perry.
Motivos pra seguir em frente? Restavam 10. Cinco filhotes de 3 meses ainda esperavam por salvamento. Eles eram os únicos que ainda não receberam vacinas, porque precisavam ganhar peso e se fortalecer mais alguns dias. Mas, como se fortalecer em um ambiente daquele? Esperávamos que, em nossas próximas atualizações, pudéssemos informar que já estavam livres.
Os Alfredinhos, depois de quase uma semana aos cuidados da Dra Telma, na Veterinária Amigo Fiel, já estavam vacinados e vermifugados, vendendo saúde, correndo e pulando sem parar, ou melhor, parando pra comer e dormir, mais comer do que dormir.
A adoção veio para os dois juntos. Deixaram a clínica da Dra. Telma na manhã de domingo, dia dos pais (12/08/2012), de banho tomado, perfumados e com gravatas. A Dra. Telma fez questão de levantar cedo no domingo para, pessoalmente, caprichar no banho, para que pudessem impressionar os adotantes.
Emerson e Danusa chegaram para pegá-los e seguir viagem para Pará de Minas. Os dois foram o presente de dia dos pais do Sr. Mussolini, um senhor de 83 anos que gosta muito de animais. Além de um amplo terreiro, eles têm agora a companhia de outros dois tigrinhos.
Muitos dos animais da casa de D. Luzia já estavam em lares temporários. Mas, adoção, os Alfredinhos foram os primeiros. Tínhamos a certeza de que, dali em diante, muitas outras viriam. Fizemos exames de leishmaniose em todos os cães e, pra nossa alegria, eles estavam negativos. Os resultados saíram no sábado, dia 11/08/2012.
Muitos donativos chegaram para D. Luzia. A ração, em maior quantidade, foi estocada e entregue à medida da necessidade. Eles não tinham onde estocar, sem embargo de que os cães estavam de saída. Agradecemos muito a ajuda de todos. Estas foram as doações que haviam chegado até o dia 09/08/2012.
Quando os mantimentos chegaram, presenciamos uma cena única. D. Luzia elevava as mãos pro céu, agradecendo a ajuda. Confidenciou-nos que estava esperando uma galinha botar para que pudesse preparar um ovo quente. Sem comentários isso.
No domingo, dia 12/08/2012, recebemos mais estas doações, entregues pela Flávia Lupe, produtos estes fruto de arrecadação feita por ela, entre amigos.
Código: 28
Dia 13/08/2012, segunda-feira, fizemos mais 3 resgates. Lina, ainda muito debilitada, e outros dois irmãozinhos, ganharam uma segunda chance na Cão Viver. Na sequência abaixo, os três ainda assustados, no carro, a caminho da ONG.
Chegaram muito assustados na Cão Viver. Assim que foram colocados em um cercadinho, enquanto aguardavam o primeiro atendimento, buscavam ficar juntos todo o tempo, como se buscassem a proteção da matilha.
Na Cão Viver, eles ganharam nomes. Lina passou a se chamar Ariel. A marronzinha hoje se chama Melissa e o machinho preto e branco ganhou o nome de Francisco. As fotos abaixo foram tiradas 5 dias depois que haviam chegado na Cão Viver, no dia 18/08/2012. Ariel já recebia com festa as pessoas. Não tinha mais medo e parecia até ter esquecido qualquer agressão que possa ter sofrido.
Na Cão Viver, os três tiveram dias felizes, brincando no parquinho, na piscina de areia e, claro, ganhando muito carinho da turma. Ganharam até uma sessão de fotos da Elisa. Recebemos as fotos com o título “Campo de Diversão”.
A Tatiana, voluntária da Cão Viver, que nos acompanhou no resgate dos três, havia feito arrecadação entre amigos, de 4 sacos de ração, destinados à D. Luzia. Entretanto, como os animais de D. Luzia estavam mesmo de saída e como já havíamos arrecadado ração suficiente, ela deixou seus donativos na Cão Viver mesmo, para ajudar não só os três que acabavam de chegar, como os demais que lá estão. As doações não poderiam ter encontrado melhor destino.
Algum tempo depois, Melissa e Francisco foram adotados. Melissa está ótima, mas o Francisco foi devolvido e continua na Cão Viver esperando por adoção.
A Ariel, depois de castrada e com duas doses da óctupla, adoeceu e precisou ser internada às pressas. Teve o melhor tratamento que poderia receber mas, infelizmente, não resistiu. Uma parada respiratória terminou sua história. Sem considerar os 6 filhotes da Perry, que já estavam morrendo quando foram resgatados, a Ariel foi o único óbito, dos 18 animais do campo. Não queríamos perder nenhum. As últimas imagens dela foram feitas por sua protetora, ainda na clínica, lutando pela vida.
Não dá pra descrever o sentimento de fracasso que ela deixou. Ficamos nos perguntando o que poderia ter sido diferente. Por que não teve ela a prioridade no resgate? Escolhemos pela idade, retirando os mais novos. Se tivéssemos “bola de cristal”, talvez a tivéssemos salvado antes de todos os outros. Mas a vida não nos dá trégua. Não temos tempo pra viver o luto. A vida continua e outros animais precisam de socorro.
Dia 15/08/2012, quarta-feira. Iniciamos a retirada do entulho no terreno de D. Luzia. Mostraremos também aqui a evolução e a transformação daquele lugar em um lar de verdade, com conforto e higiene não só para os animais que ficarem, mas também para a família.
Dia 18/08/2012, sábado. Prestação de contas e início dos trabalhos.
Até o dia 17/08/2012, havíamos recebido R$ 1.340,00, em doações em dinheiro, conforme extrato da conta abaixo e a relação dos créditos. Iniciamos a limpeza do terreno de D. Luzia. Os primeiros R$ 320,00 foram gastos com locação de duas caçambas e mão-de-obra para a retirada do lixo e entulho.
Código: 33
Quanto aos animais, no sábado, dia 18/08, resgatamos mais uma cadelinha adulta. A Pitchula (nome que recebeu no dia do resgate) ainda não tinha nome. Sua ficha médica indicava apenas Marronzinha Medrosa. Ela tremia e oferecia a barriga a qualquer aproximação. Demonstrava muito medo de tudo e de todos. Segundo D. Luzia, ela é filha do casal alfa. Nasceu naquele inferno, sobrevieu, sabe-se lá como, e foi mãe pelo menos por 2 vezes, fecundada por seu próprio pai.
Os filhotes, nas palavras de D. Luzia: __ Nem sei, morreram por aí.
Disse-nos mais, mas preferiremos omitir algumas informações. Apesar das baixas rotineiras, da desnutrição dos filhotes e dos riscos de contaminação para os mais novos, elegemos a Pitchula como a prioridade da vez. Enquanto nos preparávamos para lhe colocar uma guia, tirando suas últimas fotos naquele inferno, um dos filhotes, que a partir de agora passaremos a chamar de Rick, se aproximou dela, como se dissesse:
__ Você teve sorte. Seja feliz e torça por nós. Eles são irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, mas de idades diferentes.
Infelizmente, a retirada dela não foi tão pacífica. A Pitchula era mesmo muito arredia e medrosa. Acreditamos mesmo que ela apanhava. Soubemos que nunca teve colo e nunca soube o que é ser um cãozinho de estimação. Nasceu e cresceu naquele lugar, sem conhecer outra realidade.
Foi levada para a Veterinária Alípio de Melo, ficando aos cuidados da Dra. Cíntia. Assim que chegou na Clínica, já se mostrava mais confiante e menos assustada. Chegou a tirar um cochilo e, na despedida, ainda nos abriu um largo sorriso e nos presenteou com uma piscadela, pra nos mostrar que ficaria bem.
A Pitchula já havia recebido a vacina óctupla e o vermífugo, no primeiro atendimento. No dia em que chegou na Veterinária Alípio de Melo, recebeu a primeira dose da vacina Leishtec. Ela teve um resultado negativo para leishmaniose, o que nos incentivou a iniciar a vacinação. Ela terá o melhor tratamento possível. Será entregue castrada e com um completo cartão de vacinação.
Dias depois, a Pitchula sai da clínica para os braços de seus novos donos, já com três doses da óctupla e duas da Leishtec. Uma história que temos prazer de contar:
Dentre os filhotes, três ainda esperam a oportunidade de deixar aquele infermo. Rick e Laninha, com idade entre 3 e 4 meses, e Zulu, o filhote mais velho, de 6 meses.
Mas eles não tiveram que esperar muito. Na sexta-feira, dia 24 de agosto de 2012, recebemos uma ligação muito especial. O destino dos três estava naquele telefonema.
Do outro lado da linha, Julia Lery se oferecia para o resgate dos três filhotes. No sábado, dia 25/08/2012, junto com o sol, a Julia chegava à casa de D. Luzia, para pegar os pequenos. Ela tentaria doá-los com a ajuda de alguns outros protetores e, se não conseguisse, os devolveria.
O sábado terminou e os filhotes continuavam com a Júlia, mas com uma boa promessa para o domingo. Ao invés de devolvê-los, como combinado, Julia decidiu continuar com os pequenos. Passou o sábado e domingo por conta, numa persistência que ainda não tínhamos visto, até que o último filhote fosse entregue à nova família.
Precisamos deixar registrada nossa admiração e gratidão por tamanha dedicação. No domingo (26), por volta das 14:00 horas, recebemos uma ligação da Julia, contando que dois filhotes haviam sido adotados, mas que ela não teria coragem de devolver o Rick (faltava só ele) para a casa de D. Luzia. Ficaria com ele o quanto fosse necessário, mas a adoção teria que acontecer.
O prêmio por tamanha dedicação não poderia ser outro senão o sucesso absoluto. Com estas três adoções, não restava mais nenhum filhote no “Campo de Concentração”.
Naquela semana, mais doações chegaram, entregues na Veterinária Amigo Fiel. Muitos produtos de limpeza. Alguém adivinhou que estava mesmo chegando a hora da faxina.
Os filhotes da Kate, com o amparo e proteção de uma salvadora especial, cresceram fortes e saudáveis. Eram dois machinhos e uma fêmea. Foram chamados de Gilson (Por razões óbvias), Shilon e Baby. Assim que completaram 50 dias de vida, foram adotados. O Gilson, após a adoção, recebeu o nome de Simba. As primeiras fotos que recebemos mostram a vida feliz que ele tem levado.
O Shilon foi adotado por sua salvadora. O vídeo mostra o pequeno já em companhia de sua nova matilha, na casa que o acolheu.
A Baby também está muito bem e feliz. Hoje se chama Mel e é o xodó da Rafaela, que nos enviou estas fotos. Ela cresceu, mas continua tendo regalias de cachorrinho de colo.
Segunda-feira, dia 27/08/2012. Começam as obras para reforma de toda a rede hidráulica na casa de D. Luzia. Até o dia 24/08/2012, já havíamos recebido ao todo R$ 1.585,00. Além dos depósitos já mencionados acima, outros tês de R$ 100,00, R$ 100,00 e R$ 45,00, nos dias 20 e 24 de agosto.
Código: DL 05
Assim que iniciamos os serviços de reforma, nos deparamos com uma situação muito grave. Não se tratava apenas de cano de esgoto quebrado. Toda a parte hidráulica da casa estava danificada. As pias (cozinha, banheiro e tanque), os ralos do chuveiro e até o sanitário, tudo desaguava no terreiro. Foi preciso reformar toda a parte hidráulica, a partir das pias, de forma a canalizar tudo e consertar a rede de esgoto. Com isso, esta reforma custou ao todo R$ 810,00, sendo R$ 310,00 de material e R$ 500,00 de mão de obra. Claro que havia mais a fazer, mas higiene tinha que ser prioridade.
Código: DL 06
Código: DL 10
Código: 50
Os gastos foram:
R$ 240,00 – Locação de duas caçambas para entulko.
R$ 80,00 – Mão de obra para a limpeza do terreno.
R$ 300,00 – Mão de obra para colocação de quatro caçambas de terra no terreno (20 m3).
R$ 310,00 – Material para reforma da parte hidráulica e esgoto.
R$ 500,00 – Mão de obra para reforma da parte hidráulica.
R$ 20,00 – Carreto para entrega de telhas de amianto, doadas à D. Luzia para reforma do telhado de sua casa.
R$ 239,55 – Material de construção.
R$ 180,00 – Mão de obra de um pedreiro e um ajudante, por um dia, para os arremates finais.
Saldo devedor a descontar nas próximas doações. R$ 284,00.
Depois que concluímos a reforma da parte hidráulica, conseguimos retirar o esgoto do terreno. Entretanto, pontos de alagamento permaneceram. Pelo menos meia dúzia de minas d’água espalhadas pelo terreiro. Seria necessária uma obra de drenagem, mas não temos recursos e nem condições técnicas de avaliar as necessidades e as soluções para o caso.
Apesar das dificuldades e da enormidade de coisas que não teremos condições de fazer, o saldo foi positivo. Afinal, dos 24 animais, 7 não resistiram (6 Filhotes da Perry e a Ariel, a filhotinha de 3 meses mais debilitada – Uma perda lamentável), 13 foram adotados, 1 ainda espera por adoção e 3 permanecerão com D. Luzia (castrados, vacinados, vermifugados e bem alimentados).
No campo de Concentração, as coisas começam a melhorar. Assim que a primeira caçamba de terra foi despejada, cobrindo um canto muito sujo onde desaguava o esgoto, tanto as galinhas quanto os cães se apressaram a cavar e brincar na terra. Este filhote que aparece na foto abaixo é o Rick, um dos últimos a saír, resgatado pela Julia Lery. Ele não está mais lá. Foi um dos adotados no domingo, dia 26/08/12.
No sábado, dia 01/09/2012, o Dr. Gilson esteve no Campo de Concentração e resgatou duas cadelas adultas (Dara e Mô). Elas seriam castradas, fariam o pós operatório com ele e depois devolvidas à D. Luzia (Depois delas será a vez do macho alfa). A Dara é uma das que ainda esperam por adoção. Com isso, ficarão no local dois animais adultos (um macho e uma fêmeas), ambos castrados. As fêmeas resgatadas pelo Dr. Gilson entraram no cio no dia seguinte. Por isso, precisaram ficar com ele mais tempo que o esperado. Afinal, teriam que passar intocadas por essa fase, até poderem finalmente ser castradas.
Após a recuperação, Dara e Mô voltaram ao “campo”. Gilson e Fabiana chegaram para entregá-las. Momentos de angústia, já que depois de mais de 30 dias cuidando delas, devolvê-las a um lugar daqueles não era o que se podia chamar de “alegria”.
Mas estas criaturas são mesmo extraordinárias. Elas foram recebidas com festa e beijos pelo Negão, o macho alfa. Também demonstraram sentir saudade de D. Luzia. Apesar de tudo, elas estavam felizes por voltar. Eles se conformam. Não sabem o preço da ração que comem.
O reencontro do Negão com as duas moças não poderia deixar de ser mostrado.
Eles estavam felizes. Negão, Mô e Dara. Mô parecia querer abraçar o chão.
Mesmo com toda essa alegria, acreditávamos que D. Luzia não teria condições de alimentar três cães desse porte. Por isso, Dara chegou a ser anunciada para adoção. Ela estava vacinada, vermifugada, castrada e negativa para leishmaniose. O adotante surgiu mas, na hora de entregá-la, D. Luzia nos pediu que não a doássemos.
___ Eu vou começar a trabalhar. Pode confiar que não vou deixar faltar ração. Ela dorme comigo e não quero que Darinha vá embora.
Claro que nossa interferência tem limites. Procuramos fazer o melhor, mas o melhor nem sempre corresponde ao que a razão recomenda. Ali havia uma relação intensa de afeto e amizade. A própria Dara, a seu modo, também nos dizia que queria ficar. Restáva-nos respeitar o que a vida uniu. Assim seja.
Estamos encerrando os trabalhos. De hoje em diante, não será mais o “Campo de Concentração”. Será apenas a casa de D. Luzia, com todas as carências, as dificuldades e provações que a vida lhe impuser.
Queríamos ter podido transformar aquele lugar em um lar, tanto pra os humanos quanto para os animais que lá permanecessem. Queríamos ter feito mais. As fotos abaixo foram tiradas em uma de nossas visitas. A cena parecia nos indicar que estávamos no caminho certo. Afinal, os nascimentos sempre renovam as esperanças.
Estes três pintinhos, juntamente com outros três que nasceram nos dias seguintes, ainda estão lá. Já estão crescidinhos. O galinheiro que intencionávamos fazer, não pudemos concluir. Fizemos apenas uma reforma no telhado que os protegia das chuvas, mas sem as telas. Melhor assim. Eles terão espaço e um terreiro mais limpo pra ciscar.
O esgoto que desaguava no terreiro foi todo canalizado e coberto por terra. Agora, D. Luzia tem um terreiro, no sentido literal. Poderá voltar a plantar flores, verduras e o que mais lhe convier. As minas não atrapalharão. Os animais têm espaço e são felizes. Por lá continuaram Negão, Mô e Dara.
O gatinho que foi mostrado no início da matéria é também companheiro de cama de D. Luzia. Já se passaram quatro meses desde as primeiras fotos. Ele já está crescido, mas feliz. Não quis ganhar as ruas, conforme previmos que poderia acontecer. É arredio com estranhos, mas ainda assim, conseguimos fotografá-lo.
As galinhas se multiplicaram e ciscam felizes pelo terreiro. As ratazanas sumiram, pois não têm mais onde se esconder. Descobrimos que existem ali hábitos já arraigados que dificilmente serão abandonados. O acúmulo de coisas velhas deve continuar. Existem outras carências e necessidades que ultrapassam nossa capacidade de intervir.
Mas, descobrimos também coisas boas. Quando já estávamos prestes a encerrar nossa participação, D. Luzia nos confidencia que havia encontrado uma cadelinha, ainda filhote, branquinha, que havia sido abandonada e estava vivendo em um lixão. Ela nos relatou que:
___ Estive com ela nos braços. Mas me lembrei do sufoco que passei e não quero passar por isso de novo. Deixei ela lá, mas tem uma semana que não durmo pensando nela. Fica perto do meu trabalho. Todos os dias que passo lá ela vem correndo e pulando em mim.
Como não incentivar? Se queremos o dia em que todos os humanos se tornem protetores de animais, por que desprezar uma protetora tão dedicada? Pedimos a D. Luzia que buscasse a mocinha, prometendo que ajudaríamos a doá-la. No dia seguinte, estivemos na casa de D. Luzia para ver o resultado de seu primeiro resgate “pós campo de concentração”.
Encontramos a Felícia amarrada em um fio de luz, pulando e fazendo festa, esbanjando energia.
Mais uma vez, nossa participação não poderia se limitar às fotos e ao anúncio. Dona Luzia tinha ótimas intenções, mas nenhuma condição de abrigar aquela lobinha. Pegamos a moça e a levamos a uma clínica para os procedimentos de rotina. Claro que a Felícia foi rapidamente adotada.
Sua história está hoje registrada em nosso site, em Finais Felizes.
Dona Luzia não deixará de recolher cães. Mas agora será diferente. Ela terá o cuidado de pedir ajuda para que seus resgatados sejam preparados e encaminhados a bons adotantes. Com a Felícia, nasceu mais uma protetora. Ainda aprendendo, sem muitos recursos, mas com um bom coração.
Talvez não tenhamos sido capazes de transformar o espaço físico. Não pudemos mostrar uma bela casa e um jardim florido, como ambicionamos fazer. Mas temos a convicção de que transformamos vidas, não só dos animais.
Fica aqui registrado nosso muito obrigado a todos que se sensibilizaram e, de alguma forma, tentaram ajudar, seja doando ração, dinheiro, seja compartilhando e divulgando a matéria. Que tenhamos sido capazes de honrar a confiança que nos foi depositada.
Virá o dia em que todos os humanos sobre a terra serão protetores de animais.
Dona Luzia continua necessitando de ajuda, mas não temos estrutura pra suprir todas as faltas. Ela precisa de móveis pra compor a casa e lhe proporcionar mais conforto, precisa de acompanhamento de uma entidade de assistência, precisa de cestas básicas e ração periodicamente (embora esteja trabalhando, ainda vive com muita dificuldade).
Sua casa tem goteiras e infiltrações, que se agravam ainda mais nesta época do ano. Seu terreiro, embora livre do esgoto, ainda necessita de obras de drenagem. Um jardim ou uma horta poderia ajudá-la a melhorar suas condições de vida.
Mas tudo isso escapa à nossa capacidade. Por isso, fica este último registro. De agora em diante, quem se dispuser a ajudar e quiser conhecer o local, o endereço é Av. Ghandy, nº 609, Parque Turistas, em Contagem (divisa com Belo Horizonte, próximo ao Bairro Serrano).
Alertamos apenas que as doações não deverão ser encaminhadas de forma indiscriminada. Quem quiser ajudar ou fazer doações, que vá ao local e veja as necessidades, para que não haja excesso de doação. Não doem dinheiro. Existem problemas graves que não foram revelados aqui.
Seja feita a Vossa vontade!
Ainda não acabou. Já havíamos fechado a matéria e dado a tarefa por concluída, quando recebemos duas mensagens, no mesmo dia.
A primeira, de D. Luzia, pedindo ajuda para alguns filhotes que ela havia resgatado.
A segunda, do Dr. Gilson, nos dizendo que havia recebido, por doação de alguns de seus clientes, o valor de R$ 1.208,00, e que faria o depósto na mesma conta antes indicada. Já tínhamos dado por terminados os trabalhos, mas as pessoas que fizeram as doações esperavam que os recursos fossem empregados para ajudar os animais de D. Luzia. E assim será.
Como estamos próximos do Natal, decidimos começar melhorando a ceia e garantindo presentes para os lobos. Um saco de ração, três ossos grandes, uma cesta básica e um panetone. Foram comprados e entregues na casa de D. Luzia no dia 21/12/2012.
Código: 51
Quando chegamos, somente o Negão e a Dara estavam em casa. Mô, segundo D. Luzia, estava pra rua (eles são semi-domiciliados). Eles gostaram, é claro. Vez ou outra D. Luzia costumava pegar ossos de boi nos açougues, para presentear os cães, mas ossos tratados e preparados para eles, ainda não conheciam. Fizeram uma festa.
Já deu pra conhecer as duas novas hóspedes de D. Luzia. (Por enquanto, duas).
O último valor depositado pelo Dr. Gilson, no total de R$ 1.208,00, foi assim gasto (Comprovantes no link indicado acima para prestação de contas):
21/12/2012. Compras de Natal, conforme narrado e mostrado acima, no valor de R$ 64,87 (Cestas básicas) + R$ 155,00, ração e ossos para os cães.
Agosto de 2012. Saldo devedor dos gastos iniciais, conforme já indicado acima. R$ 284,00
22/01/2013. Ração, no valor de R$ 200,00
26/02/2013. Ração, no valor de 246,40
Necessário esclarecer aqui que foi preciso interromper a remessa de donativos, porque a relação de dependência estava se tornando inconveniente. Por isso, dei por encerrados os trabalhos e disse à D. Luzia que ela estaria, de agora em diante, por sua própria conta.
Como restava ainda um valor aproximado de R$ 260,00, optamos por realizar compras esporádicas de ração e enviar sem identificar remetente. Só voltamos a fazer estes envios no mês de Junho de 2013 e Agosto de 2013, depois que cessaram os pedidos de ajuda.
14/06/2013. Ração (2 sacos de 15 quilos), no valor de R$ 112,00.
14/08/2013. Ração (4 sacos de 15 quilos), no valor de R$ 224,00 (Entregues de 2 vezes).
Saldo devedor: R$ 77,87
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.