Perdemos o Chip Bento. Já fazem alguns dias mas só hoje estou conseguindo escrever algo.

O tumor estava avançando muito rápido. Ele não respondia à quimioterapia e os remédios de dor já não faziam mais efeito. Passou os últimos quatro dias de vida sem comer, vomitando muito, internado, no soro, prostrado.

Não era nem sombra daquilo que esperávamos ver um dia. Perdeu o brilho no único olho que não foi comido pelo câncer. O rabinho continuava abanando pra todo mundo. Mas isso não significava nada. Sabíamos que o Chip abanaria o rabinho até o último minuto.

E foi exatamente assim. Estive com ele nos últimos minutos, tempo suficiente para que fizéssemos alguns combinados. Senti na palma das mãos seus últimos suspiros, as últimas batidas de seu coração. Ainda não havia vivido nada nem parecido com isso. Doeu muito, mas quero acreditar que ali reforçamos nossos vínculos.

Assim que ele partiu, me restava sepultá-lo. Ele merecia um lugar especial. E só consegui pensar em um lugar pra isso: o santuário, o território dos lobos. Eu cheguei a prometer a ele que, assim que melhorasse, eu o levaria lá para uma de nossas expedições. Eu tinha certeza de que ele iria adorar, mas não deu tempo. Ele não chegou a ficar bom o suficiente pra aguentar uma aventura assim.

Foi pra lá que o levei, desta vez sem o resto da matilha. Só eu e ele, em total silêncio, sem testemunhas. Escolhi pra ele um lugar dentro da mata, em um bosque de árvores frondosas, ao lado de um riacho. Mesmo sabendo que o Chip não estava mais ali, que ele não era apenas aquele corpinho doente, achei que devia ser assim.

As últimas fotos foram tiradas no dia de sua última quimioterapia. Nós as chamaremos: “Entre dois amores”.

Você fez um estrago por aqui Chip. Nunca um cachorro abandonado provocou tanta comoção, deixou tanta tristeza, tanta saudade. Poucos foram tão amados. Quando voltar Chip, haverá por aqui muitos braços abertos à sua espera, inclusive os meus.

Sua história, amigo, ficará registrada em nosso site. Quero que as pessoas saibam que um dia existiu um cachorro chamado Chip Bento, e que ele foi muito especial.

Quero reafirmar nossos últimos combinados Chip. Eu continuo acreditando em milagre. Sei que nós não estávamos sozinhos naquela sala e que você está em outros braços. Sei também que você está em processo avançado de humanização e que vai voltar logo.

Vou rezar e pedir a Deus que nossos caminhos se cruzem novamente, e que eu possa resgatar sua futura mãe. Nossos amigos me ajudarão a reconhecê-lo, ainda no ventre dela. Quero recebê-lo desde o primeiro dia de vida.

E tudo vai ser diferente. É uma promessa, amigo Chip, que insisto em fazer, mesmo sabendo que promessas nem sempre podem ser cumpridas.

SMPA – Uma história a parte

Dia 05 de Janeiro de 2013 foi o marco inicial de um dos maiores desafios que já enfrentamos. Foi o dia em que estivemos, pela primeira vez, na Sociedade Mineira Protetora dos Animais.

Cheguei com o coração acelerado, sem saber o que encontraria. Qualquer protetor está habituado a presenciar o sofrimento, mas as notícias que nos chegavam iam muito além do sofrimento que se pode esperar encontrar em um abrigo de animais.

Não vou me estender pra falar das denúncias que assolavam a SMPA, já que este nunca foi o objetivo daquela visita e do trabalho que iniciamos naquele dia. Aquela visita não foi opção. Recebemos a incumbência e a nós cabia apenas executá-la. Os portões nos foram abertos, conforme já narrado na primeira matéria, que pode ser vista no link abaixo.

http://oloboalfa.com.br/smpa/

Logo que iniciamos o trabalho, percebemos que não bastava anunciar animais para adoção. Estávamos acostumados a recuperar animais e fotografá-los em momentos felizes, ofertando a possíveis adotantes animais tão saudáveis quanto os que temos em casa.

Ali, tudo era diferente. Os muros externos da SMPA ainda cheiravam tinta fresca. Haviam sido pintados por determinação de autoridades que entendiam ser prioridade esconder a sujeira. Por traz dos muros azuis, um inferno, no sentido mais puro que se possa imaginar.

Um abrigo superlotado, um depósito de animais doentes, mutilados, sujos. Ali faltava tudo. Os animais não estavam vacinados e apenas alguns estavam castrados, de uma época em que a CCZ ainda tinha com a SMPA um convênio para castração.

Entendemos que nada seria mais urgente que esvaziar o abrigo, retirar de lá o máximo possível de animais, para que os que ficassem tivessem o mínimo de qualidade de vida. Mas pra isso, precisávamos convocar protetores e veterinários, para que cada um ajudasse um pouco, salvando pelo menos uma vida.

Fizemos as fotos já imaginando que ao final, escolheríamos um dos animais, pra dar o pontapé inicial na campanha e incentivar outros protetores.

E, mais uma vez, a vida se encarregou de conduzir as coisas. Assim que terminamos de fotografar os animais, já nos preparávamos para voltar aos canis e escolher um daqueles olhos (Seria a escolha mais difícil de nossas vidas).

Mas aí, neste exato instante, percebemos a chegada de um novo lobinho que estava sendo deixado ali. Segundo a pessoa que o levava, ele foi encontrado na rua havia dois dias. O cãozinho abanava freneticamente o rabinho ao homem que o conduzia. Naquele momento, eu não tive dúvida de que aquela demonstração de afeto indicava uma relação antiga. Mais tarde, conhecendo melhor aquele lobinho, descobri que a história contada poderia ser verdadeira.

O fato é que naquele dia conhecemos o Bentinho. Interceptamos sua chegada e o trouxemos conosco. O lobinho escolhido não chegou a ser retirado da SMPA, porque não chegou a entrar lá. Ainda assim, ele seria o exemplo perfeito para o trabalho que queríamos fazer.

Saímos dali animados, imaginando registrar cada momento do Bentinho, sua evolução, sua recuperação. Achamos que teríamos uma bela história e belas fotos pra mostrar. As primeiras fotos foram tiradas ainda na porta da SMPA. Não eram bonitas, mas as que viessem depois amenizariam o horror daquele momento.

Hoje vejo que a tarefa ali não era apenas ajudar os animais da SMPA. Estávamos ali, naquela hora, pra resgatar o Bentinho. Desde aquela manhã de sábado, ele não deixou de lutar pela vida, um único dia. É só o que tem feito, e à custa de muito sofrimento e dor.

O que parecia ser uma simples miíase se revelou algo muito mais complexo. Os medicamentos não faziam muito efeito.

Uma incontinência urinária indicava algo errado, além daquele ferimento na face. Uma ultrassonografia mostrou que sua bexiga não tinha espaço para armazenar urina. Uma pedra de 35 milímetros ocupava quase todo o espaço disponível.

Chip 2

Bentinho passou pela primeira cirurgia, realizada pelo Dr. Leonardo Maciel, do Hospital Veterinário Animal Center.

Nesta mesma cirurgia, aproveitando a anestesia, ele fez também uma limpeza de dentes e remoção de tártaro. O Bentinho não era mais jovem e seus dentes estavam tomados por tártaro.

Esperávamos uma rápida recuperação para que pudéssemos finalmente contar sua história e chamar a atenção para os outros que lá estavam. Mais uma vez, novos antibióticos e nada de melhora significativa. Àquela altura, a ferida em sua face já havia se transformado em um caroço que diminuía a cada troca de antibiótico e voltava a crescer dias depois.

Naquela ocasião, o nosso Bentinho já estava sendo chamado de Chip por todos lá na Veterinária Amigo Fiel, onde ele estava. O nome pegou e hoje ele já atende por Chip.

Então, decidimos, em definitivo, chamá-lo de Chip Bento.

Chip 4

Voltando à sua luta pela vida, mais uma cirurgia, desta vez para investigar o motivo daquela infecção. Uma única larva, já morta e não absorvida pelo organismo poderia ser o motivo. Mais uma tentativa, com novos e mais fortes medicamentos, sem muito êxito.

Mais uma batelada de exames e radiografias, desta vez sob os cuidados da Vet Master, do Dr. Mário Rennó. A suspeita surgida nos exames clínicos se confirmou nas radiografias. Um dente infeccionado seria a causa de tudo aquilo.

Pela primeira vez, foi possível ter a noção do que este lobinho sofreu. A infecção do dente atingiu ossos, nervos, tecidos, afetou o canal olfativo, até furar seu rosto. A Miíase, ao contrário do que se pensou inicialmente, não era a causa do ferimento, mas apenas mais um problema oportunista.

Não é possível imaginar a dor e o sofrimento dele. Não era possível imaginar como ele ainda tinha forças pra abanar o rabinho pra quem quer que fosse.

Mais uma cirurgia, às pressas, para retirada do dente e de todo aquele tecido morto que já tomava conta de sua face.

Nova cirurgia, novos medicamentos, novas expectativas. Mais uma vez, a melhora esperada não veio, o que impôs a ele mais um exame invasivo, com biópsia do material retirado, vindo o triste diagnóstico de tumor maligno altamente agressivo.

Chip 5

O Chip é um lobinho cativante. Conquista a todos, por onde quer que passe. Lá na Vet Master, ele também conquistou uma penca de gente.

De todos, uma era especial pra ele. E ele parecia fazer questão de nos contar. A Nívea é funcionária da Vet Master e tem como função cuidar de todos com a mesma dedicação, e assim o faz. Mas isso não a impede de ter suas preferências.

Melhor para o Chip, que teve uma assistência mais que especial durante o tempo em que esteve na Vet Master. Ficou internado por mais 20 dias.

Restava então buscar ajuda de um médico oncologista. Mariana Cavalcanti, da Oncovida, foi o nome escolhido.

O Chip terá mais uma batalha pesada pela frente. O tratamento será longo. Esperamos apenas que não seja doído. Afinal, achamos (na verdade temos certeza) que ele não precisa sofrer mais. O que passou até aqui já está de bom tamanho.

Mal sabíamos que ainda viveríamos uma experiência única. Não por acaso, ele tem o nome de dois Papas vivos. Afinal, Chip é apenas uma variação de Chico.

O tratamento (quimioterapia) teve início na quinta-feira, dia 14/03/2013. Logo após a aplicação, ele precisaria deixar a clínica. Os fortes medicamentos baixariam muito sua imunidade. Ele não poderia ser vacinado, nem tampouco fazer uso de vitaminas. Por isso, precisava ficar em ambiente mais puro, livre de agentes infecciosos, de vírus ou bactérias.

E foi com esta cara alegre que ele chegou em nossa casa, logo após a aplicação. Percorreu os aposentos e parecia ter gostado. Por recomendação médica, precisaria ficar separado de nossa matilha principal, pelo menos nos primeiros dias.

O canil não é 5 estrelas mas ele teria espaço pra andar, esticar as pernas, fazer suas necessidades longe da casinha e das vasilhas de comida e água. Tem área coberta e também descoberta, onde poderia tomar sol.

Vez ou outra, ele teria permissão de ficar um tempo na varanda, olhando o movimento da rua, latindo e, claro, marcando um território que ele já achava que era dele.

Também gostava de pisar na grama e não dispensava carinho. Reivindicava com autoridade. Chegava a ficar bravo se não lhe déssemos a atenção que julgava precisar.

Mas o melhor mesmo era ficar deitado debaixo do banco, olhando o movimento da rua. O nosso Chip, ou Bentinho, estava finalmente feliz, apesar de todo o sofrimento e de todo o tratamento que teria pela frente. Achávamos que, de agora pra frente, veríamos apenas melhoras.

Chip 10

O sol da manhã também era aproveitado sempre que tinha oportunidade. Depois do diagnóstico de câncer, confesso que me desanimei. Pedi a Deus que me desse a oportunidade de dar a ele um final de vida mais digno. Que ele fosse feliz em seus últimos dias. Chip não era jovem e não teria muito tempo de vida, ainda que tivesse saúde.

Mas com tantos problemas, eu já não esperava muito. Que ele tivesse qualidade de vida, pelo menos para que deixasse esse mundo levando boas lembranças de nossa espécie. Que tivesse tempo pra esquecer o passado.

Mas aí, o inesperado vem por alguma razão que, confesso, até agora não consegui imaginar o propósito.

Quando achávamos que nada mais poderia acontecer, o Chip teve uma súbita piora. O diagnóstico provável foi de um AVC, isto no sábado, dia 16/03/2013, apenas 2 dias depois que chegou em nossa casa. Amanheceu mancando de uma das pernas traseiras. Duas horas mais tarde, a pata já estava imobilizada.

Corri com ele para a clínica, onde foram tiradas radiografias e nada de conclusivo. Novos e mais fortes analgésicos e observação foi a recomendação médica. Pouco depois de chegar em casa com ele, depois da consulta, o quadro começou a piorar rapidamente. No meio da tarde ele estava sem mobilidade e andando com muita dificuldade, chegando mesmo a cambalear e cair, sem forças pra se sustentar, pra subir escadas ou mesmo a rampa de seu canil. Às 16:00 horas, se deitou e não conseguia mais se levantar.

No fim da tarde, o Chip já não se movia mais. Apenas abria os olhos quando eu me aproximava e ensaiava um leve movimento no rabinho, que nem chegava a ser um sorriso. Liguei para a Mariana, oncologista que o acompanhava e expliquei o caso. Cheguei a dizer que estávamos perdendo a luta.

Mesmo sem forças até mesmo pra abrir os olhos, ele gemia de dor quando eu tentava pegá-lo. Então, preferi acomodá-lo sobre o edredom, ali mesmo do lado de fora da casinha, e esperar que a vida abreviasse a dor dele. Já me conformava com o pior. Afinal, não podemos vencer sempre. Não seria o primeiro nem o último.

Sentei ao lado dele e fiquei imaginando que lição a vida pretendia me ensinar. Divaguei por algum tempo, dando asa à minha prepotência, colocando meu umbigo no centro do universo.

O que me fazia pensar que tudo aquilo era por mim? Só porque eles não têm dívidas cármicas? Só porque eu estava sofrendo, talvez mais do que ele?

Quando o peguei na porta da SMPA, eu queria que sua história ajudasse a salvar os outros 250 que deixei pra trás naquela manhã de sábado. E agora eu não teria nenhuma história pra contar. Naquele momento, algo me despertou e achei que, qualquer que fosse o desfecho, aquela história teria que cumprir sua função. Se o Chip não pudesse ser salvo, que servisse pra sensibilizar mais alguns humanos, e que pudesse chamar a atenção para os que ficaram no abrigo, e para os tantos que continuam nas ruas.

Então, peguei a máquina fotográfica e registrei o que, naquele momento, imaginei que seriam suas últimas fotos. Na vasilha ao lado, a mistura de ração, patê e frango desfiado, que ele nem sequer tocou. A última refeição que não chegou a ser feita.

Senti-me muito mau por estar registrando cenas tão fortes. Afinal, ali ele estava morrendo e eu não poderia fazer nada. Os médicos recomendaram observação, já que o AVC poderia se reverter. Eu não sabia se iria usar as fotos, mas algo me impulsionava a fazer aquilo. Doeu muito.

Chip 13

Deixei o Bentinho ali, imóvel, acomodado sobre o edredom, rezando para que ele partisse breve, e que não sofresse.

Por volta das 03 horas da madrugada de domingo, levantei e fui até o canil. Ele estava na mesma posição em que o deixei. Ainda respirava, mas já não movia mais nem mesmo o rabinho. Abriu os olhos, mostrando que estava ciente de minha presença, mas voltou a fechá-los em seguida.

Sentei ao lado dele, coloquei as duas mãos sobre seu corpo, sentindo sua respiração, mostrando a ele que não estava sozinho. Fiquei ali por uns 30 minutos. Rezei por ele e agradeci a Deus a oportunidade de tê-lo recebido. Deixei o canil mas não consegui voltar a dormir.

Também não tive coragem de voltar ao canil. Eu sabia que tínhamos perdido a luta e que a primeira providência, na manhã seguinte, seria das mais doídas. Rezava para que ele desencarnasse naturalmente e me poupasse ter que autorizar sua eutanásia.

Mal o dia amanheceu, eu liguei para a clínica e conversei com o médico de plantão. Expliquei toda a situação e disse que precisava levá-lo para uma avaliação. A decisão final não poderia ser tomada pelo vet de plantão. Mas pedi a ele que avaliasse e explicasse o caso por telefone para os Dres. Mário e Mariana, aos quais caberia o parecer final.

Mas aí, algo inacreditável aconteceu. Não sei dar explicações, nem os médicos saberão. Quando cheguei no canil para pegá-lo, às 07:15 horas, encontrei o Bentinho de pé, abanando o rabinho pra mim. Fiz muita festa com ele, que retribuiu na mesma intensidade.

Corri na cozinha e peguei uma panela de frango desfiado que estava na geladeira, quebrei o gelo e voltei ao canil (Ele não tinha comido nada no dia anterior). Ofereci frango puro. Ele tinha que forrar o estômago. Nutrição balanceada ficaria pra depois.

Ele devorou a primeira vasilha, comeu a segunda toda e parou no meio da terceira, demonstrando estar saciado, depois de um belo arroto bem na minha cara. Notei também que, do ferimento em seu rosto, saía um líquido, como se o tumor estivesse sendo desfeito. O Inchaço começava a diminuir.

Chip 14

Clinicamente, a explicação é a de que ele está respondendo bem ao tratamento. Cada um que tire as próprias conclusões. Vou me abster de expor as minhas.

Naquele momento, o Bentinho ainda estava fraco e com dificuldade motora. Não subia escadas e nem mesmo a pequena rampa que dava acesso à parte coberta de seu canil. Cheguei a preparar um tapume, para que ele ficasse confinado à área coberta durante a noite. Tive receio de que ele descesse e não conseguisse voltar, dormindo no sereno. Providenciei também uma segunda casinha para que ficasse na parte descoberta do canil, por cautela.

Por duas noites ele precisou ficar confinado. Mas as melhoras têm sido grandes e rápidas. Assim que ele melhorou um pouco, deixei que ele conhecesse o resto da casa. Foi até o terreiro e viu que ali haviam instalações melhores que aquela onde ele estava. Se soubesse falar, pediria pra trocar de quarto. Mas durante todo o tratamento, que ainda vai longe, o Chip precisará ficar alguns dias isolado. Melhor não ampliar muito os horizontes, para que os dias de confinamento não sejam sofridos.

Chip 15

Também era hora dele conhecer o restante da matilha. Afinal, nenhum lobo é feliz vivendo sozinho.

Conheceu a Drica, uma Poodle como ele, mas com metade de seu peso, que também está por aqui, em tratamento, esperando se recuperar pra seguir novo caminho.

Foi bem recebido pela Pintada e pela Estopa, nossas eternas anfitriãs. Com a Hanna, ele se empolgou mais e acabou assustando-a. Ela ainda está arredia com ele, mas é só uma questão de tempo pra se soltar.

Já está correndo e latindo na porta da rua. Deu-se muito bem com toda a turma, mas demonstra uma simpatia maior pela Pintada. Não é corujisse, mas nossa Pinta é mesmo especial. Ainda não conheci uma criatura como ela.

Não sabemos onde esta história vai dar, nem se o Chip terá um final feliz. Mas agora acreditamos que ele está feliz. Queremos muito poder anunciar que ele venceu o tumor, que já poderá ser adotado.

Se sobreviver, precisará encontrar donos especiais, que entendam o que ele passou e que se disponham a dar a ele uma vida melhor do que a que está tendo aqui.

O fato é que o Chip está feliz. Talvez pela primeira vez, está sentindo que tem uma casa e está amparado.

Ele é incansável quando o assunto e receber colo e atenção. O sujeito é um carrapato de tão carente. Só perde para a Drica. Se eles estiverem no mesmo ambiente, não posso nem sentar no chão, porque eles disputam o colo e chegam a se desentender.

Também aprendeu a uivar. Acho que é só pra nos mostrar que o lobo que ainda lhe habita a alma é valente e não o deixará desistir.

Ele está lutando muito pela vida. Os remédios que devem ser dados via oral, ele engole com gosto. E isso não serve só para os comprimidos que são dados no patê.

Mesmo antibióticos líquidos, ministrados na seringa, ele põe a lingua pra fora e me deixa despejar o líquido em sua boca, que ele vai engolindo, à medida que lambe a ponta da seringa. Toma tudo, sem reclamar.

E assim tem sido a vida do menino. Ora chamado de Chip, ora de Bentinho, ou ainda Chipolino, Chipolico ou qualquer coisa parecida. Ele atende a qualquer chamado.

Nosso Chip é um cãozinho humilde e muito, muito bonzinho. Não reclama de dor e não chora, mesmo quando está evidente que está doendo. Está precisando com urgência de um bom banho, mas sua imunidade está muito baixa. O banho terá que esperar mais um tempo. Até lá, vamos aguentando.

Não sabemos como esta história vai terminar, se o Chip vai vencer o câncer ou se vai ter um dono de verdade algum dia. Mas uma certeza nós temos. O Chip será feliz para sempre, mesmo sabendo que sempre não é todo dia, e que o “pra sempre” sempre acaba.

Eu acredito em milagre.

Atualização…

A luta continua. Chip segue em tratamento. Voltou a ser internado com crise de dor, desidratação e poucas esperanças de recuperação.

Da última vez que esteve na clínica, reencontrou o amor. Fizeram juras e combinaram de se encontrar mais vezes.

O Chip foi adotado. Sua nova dona é a Nívea, que continua paparicando o menino todas as vezes que ele precisa voltar para a clínica. O problema é que agora ele prefere ficar internado, no soro e confinado em uma gaiolinha. Pra qualquer cachorro, seria uma situação angustiante, mas para o Chip, é a garantia de ter a Nívea o dia inteiro ao seu lado.

Chip 23

A verdade é que o Chip já tem a caminha reservada no quarto da Nívea, e ele sabe disso. Mas precisa se recuperar primeiro. E com um motivo assim pra viver, é claro que ele tem melhores chances. Mas, até lá, que venham quantos novos amigos a vida puder lhe trazer.

Da última vez que deixou a clínica, levava na bagagem uma receita extensa. Ele precisaria de cuidados constantes, uma grande quantidade de remédios que deveriam ser ministrados nas horas certas, muitas vezes partindo a noite e a madrugada.

Só havia um lugar onde ele encontraria tanta dedicação. Dormiria dentro de casa, sob o olhar vigilante de uma enfermeira dedicada. Tomaria todos os remédios nas horas certas e teria ainda de quebra a convivência intensa com uma turma pra lá de diferente.

Giovanna Pet foi o destino dele. Foi recebido no Jardim pela Giovanna, pela Mia, uma Pit Bull muito legal, Bob e Marley, dois Labradores negros gigantes que também esperam por adoção, e o Bigode, um cidadão das ruas.

Já dentro de casa, ele recebeu os primeiros cuidados da Gabriela, conhecendo também mais um pedaço da turma.

Com cães ele é muito sociável. Mas descobrimos que o menino é enfezado com gatos, com galinhas, com patos, com sapos, grilos e formigas.

Com as aves, anfíbios e insetos, ele até que leva a melhor.

Mas, com a Flecha, o bicho pegou pra ele. Se alguém não se lembra dessa cara amarrada, Flecha é aquela onça brava que resgatamos de dentro de um cano, onde viveu por mais de 30 dias, enquanto ainda era uma filhotinha.

http://oloboalfa.com.br/flecha-uma-onca-na-cidade/

Foi adotada pela Giovanna, que até tentou ensinar bons modos pra ela. Mas até os pelos brancos em sua face foram distribuídos pra que ela ficasse com cara de brava. Não dá trela para o Chip e não afina. Deixa claro que ali, é ela quem manda.

Esta semana o Chip viveu uma experiência especial. Foi recebido pela Sheila e pela Ademildes, que escancararam as portas de sua casa (Ser Essencial Espaço Terapêutico) para o Chip e para a Pequena Iris. Eles passaram por uma iniciação de cura.

A Iris foi encontrada junto com outros irmãos, jogados dentro de uma caixa, com apenas 3 dias de vida, com os cordões umbilicais ainda presos ao corpo.

Eliana Malta e Giovanna se revezaram para manter vivos os pequenos. Mas logo nos primeiros dias, algo não ia bem com a pequena Iris. Ela não se desenvolvia. O diagnóstico foi de hidrocefalia e uma penca de outros problemas decorrentes.

Ela está cega e não consegue se desenvolver. Sua expectativa de vida era de apenas alguns dias.

Mas, por algum motivo, a vida lhe manteve viva até agora. Ela já está com 3 meses de vida e continua pesando apenas 300 gramas. Já está espertinha e se arrisca em brincadeiras, chegando mesmo a infernizar a Mia. Ela é muito novinha e não teve tempo para aprender que rabo de Pit Bull não é brinquedo de lobinho miúdo.

Na primeira noite, logo após a sessão de Reiki, Chip e Iris dormiram muito, um sono pesado. Nada, absolutamente nada, os tirou daquela hibernação. No dia seguinte, acordaram cedo e devoraram até a beirada das panelas.

Após o desjejum, Chip esteve novamente na clínica, para mais alguns exames de rotina que deveriam anteceder à terceira sessão de quimioterapia. Ele fez questão de mostrar para todos que estava bem. Fincou o pé e não deixou que ninguém lhe tirasse o sangue. Matou mais um pouco de saudade da Nívea e voltou feliz para a casa.

Esperávamos continuar atualizando esta matéria, mas teremos que parar por aqui.

Continuamos acreditando em milagre.

Que fique aqui registrado nosso mais profundo agradecimento a cada profissional que ajudou a cuidar do nosso menino. Cada um em sua especialidade, oferecendo ao não tão comportado Chip o que tinham de melhor.

Preciso acreditar que tudo isso não foi em vão. Eu até consigo ver uma razão, ou melhor, milhares de razões. No dia que resgatei o Chip, decidi que ele seria o ponto de partida, o exemplo a ser seguido, a inspiração para que os outros 250 que latiam atrás dos portões tivessem a mesma oportunidade.

E eles continuam lá. Como eu queria que as pessoas entendessem! Não é por acaso que o ato de salvar um animal abandonado é definido como “RESGATE”.

Precisamos resgatá-los. Precisamos nos redimir. Eles estão lá por nossa culpa.

Na SMPA, 200 cães tão especiais quanto o Chip estão esquecidos pela sociedade. Na Cão Viver, outros 120 esperam por adoção. E esta triste realidade se espalha pelo mundo.

Eles continuam sendo abandonados todos os dias, continuam sendo negligenciados, maltratados, agredidos.

Resta-me esperar que esta história tenha força pra despertar mais alguns protetores de animais. Aí teremos a certeza de que seu resgate, Chip, e todo o seu sofrimento, não foram em vão.

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