Era uma vez uma linda tartaruga chamada Sol. Há 20 anos ela chegou às mãos de alguém que prometeu cuidar dela por toda a vida, e assim o fez.

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Quando a Sra. Graça partiu, Sol era uma dentre algumas vidas órfãs de dona. Os lobos e tigres foram adotados pela Luciana, filha de dona Graça. Ela também tornou-se tutora da Sol, mas não por toda a vida. É que ali teve início a busca pelo sonho de dar à Sol uma vida diferente, livre, entre os seus.

Seria necessário identificar sua espécie e conhecer seu habitat natural. E aí veio o banho de água fria. Tratava-se de uma legítima tigre d’água, que no Brasil, ocorre apenas no extremo sul, mais precisamente na Lagoa dos Patos, próximo ao litoral leste do Rio Grande do Sul.

Sol era uma espécie exótica e não poderia ser reintroduzida na região sudeste, onde vivia. Ela até que tinha algum espaço. Na medida do possível, tentava-se reproduzir um ambiente mais próximo possível do natural. Infelizmente, as possibilidades eram limitadas, pois ela vivia em um apartamento.

Sol 2

E aí, veio o inusitado. A busca pela liberdade da Sol acabou levando a Luciana a outros da mesma espécie, que viviam em situações muito precárias. Pequenos aquários, uma pia e até mesmo um balde era moradia fixa de alguns parentes próximos. Essa é a realidade de muitas tartaruguinhas verdes que um dia foram comercializadas livremente nos mercados populares.

Sol 3

Foi aí que surgiu a ideia de reuni-las e tentar organizar um ambiente menos estressante para o grupo. Por sorte, as crianças puderam contar com a habilidade do Sr. Tognolli, que preparou pra elas um ambiente limpo, com um lago e uma rampa por onde elas podiam sair pra tomar sol.

Sol 4

Por acaso, só pra quem acredita nele, a Luciana é também protetora e uma das voluntárias do Projeto O Lobo Alfa. A vontade de fazer mais por aquelas vidas era grande, mas havia alguns entraves. Precisaríamos encontrar pra elas um lago, mas que não fosse totalmente natural, pois elas não poderiam ser reintroduzidas.

E aí, algo verdadeiramente surpreendente, que chamaremos de “sinal”, aconteceu. Poucos dias depois que a turma da Sol estava vivendo no novo território improvisado, surgiu na lagoa do santuário do Projeto uma tartaruga. O local não é aberto a visitação e é escondido o suficiente para sabermos que aquela aparição não era obra humana.

Sol 5

A hipótese mais provável é que ela subiu o curso d’água, talvez atraída pelo cheiro de peixe. Naquela lagoa existem peixes também resgatados, ou de piscicultura ou de aquarismo. Estão ali para viverem livres, sem riscos de perderem a vida nos anzóis ou redes. Os riscos são apenas os predadores naturais.

E aquela menina havia chegado ali com suas próprias pernas. Era arredia demais e ninguém conseguia sequer se aproximar. Demos a ela o nome de Maricota, acreditando que fosse uma legítima mineirinha (Alguma espécie silvestre).

Maricota estava à vontade, interagindo muito bem com os peixes. É possível que tentasse comer alguns alevinos, mas nada que prejudicasse a paz naquelas águas.

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Com a ajuda de uma boa câmera, conseguimos fotografá-la e buscar ajuda para identificar a espécie, quando então veio a surpresa: A Maricota era uma Tigre d’água, mesma espécie da Sol.

Segundo a explicação que tivemos, há muitos anos, estes animais eram vendidos livremente nos mercados e feiras pelo Brasil a fora. À medida que cresciam, as pessoas começaram a soltá-las em rios e lagos. Os répteis se adaptaram e se espalharam, causando, em alguns casos, desequilíbrio ecológico. 

É importante alertar que somente o IBAMA tem autorização para reintroduzir animais. A soltura de espécies exóticas é crime ambiental.

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A Maricota chegou por ali e fixou morada. Tinha alevinos em abundância, e ainda podia se alimentar da ração que diariamente jogamos aos peixes.

O tempo passou e a Maricota se mostrava cada dia mais adaptada. Estava feliz ali e deixava claro que não tinha intenção de partir.

Como nossa lagoa não é exatamente um ambiente natural, e já abriga espécies exóticas de peixes, poderia também servir como morada para Sol e sua turma.

E assim foi feito. Elas chegaram ao santuário na mesma banheira que lhes serviu de Play por muito tempo.

Sol 8

Elas chegaram e foram colocadas no chão. Talvez pela primeira vez, pisaram na terra. A chegada foi acompanhada pelo Pingo, um ex-protegido do Projeto O Lobo Alfa, e que hoje faz parte da família da Luciana.

Sol 9

A primeira a puxar a fila foi a Sol. Ela esticou o pescoço e olhou em várias direções, como se tentasse entender o que se passava.

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Não precisou de muito tempo pra entender que precisava se mover e buscar a proteção da água.

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E já de dentro d’água, ela buscou fazer contato visual com as demais, como se as chamasse.

E elas atenderam ao chamado, não da Sol, mas da vida.

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Letícia e Aninha seguiram o mesmo caminho e se refugiaram na água.

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Logo atrás, dona Redonda, resgatada em uma casa, de onde os antigos moradores se mudaram e a deixaram pra trás.

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Por último, Dartagnan.

Sol 14

A imagem daqueles animais buscando, com as próprias pernas, a proteção de águas mais profundas foi mesmo algo pra não ser esquecido.

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Pingo estava lá e acompanhou tudo. Assim que a última tartaruga se afastou da margem, Pingo veio para o colo de sua mãe, lambuzado de lama, mas feliz. Parecia entender o momento que tinha acabado de presenciar.

Pra ele, mesmo sendo um lobo em avançado processo de evolução e humanização, talvez não seja fácil compreender a importância daquilo.

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Mas nós, humanos, já passamos muito da hora de entender que animais exóticos ou silvestres não são animais de estimação. Quando mantidos em cativeiro, tornam-se nossos escravos, e nada mais que isso.

O Lobo Alfa H 8

Sol

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