No dia em que chegaram, não tinham nomes. Eram mais de duzentas aves com um histórico de crueldade, que buscavam ali uma segunda chance.
Eles deixaram as gaiolas de transporte assustados e muito cansados da viagem. Buscaram logo empoleirar-se onde sentiam-se mais seguros.
Os coleiros e papa-capins logo procuraram a fonte. Tomaram banho e depois buscaram as sementes espalhadas no chão de terra.
Alguns deles nunca viveram nada parecido.
Nos primeiros dias, são vistos e fotografados coletivamente. Não é possível distingui-los ou reconhece-los individualmente. Afinal, desta vez, entre coleiros e papa-capins, foram 87 vidas.
Com o passar dos dias, e depois de muitas e muitas fotos, começamos a conhecer este ou aquele, principalmente aqueles que acabam formando casais.
Quando os casais se formam, conseguimos reconhece-los, mesmo quando misturados a tantos outros. É que estão sempre juntos e podem ser mais facilmente reconhecidos.
Dessa vez, logo nos primeiros dias notamos um casal de papa-capins que não se desgrudavam. Eles estavam sempre juntos, do banho às refeições.
Demos a eles os nomes de Tunico e Antoninha. Um era a sombra do outro e, se outro macho se engraçasse com a Antoninha, o Tunico virava um gavião pra defender sua garota.
Ele não precisou de mais que dois ou três dias pra estar voando com desenvoltura. Bonito era vê-lo incentivando a Antoninha a voar com ele. Parecia saber que eles precisavam estar fortes e que a liberdade estava perto.
Ele a chamava para o espelho d’água, e também para catar as sementes no chão. Raramente frequentavam os comedouros.
A Antoninha parecia confiar na liderança do amigo. Ele sabia como sobreviver ali e, pra ela, estar ao lado dele era seguro.
Os galhos da amoreira foram lugares de descanso. Passavam muito tempo ali, sentindo o vento que vinha da mata.
Tunico estava sempre alerta, como se vigiasse o horizonte, à procura de predadores ou qualquer coisa que representasse perigo.
Foram 30 dias de aclimatação. Ali eles se prepararam para a vida livre. Chegaram a ser flagrados juntando alguns ramos de capim seco, mas não se atreveram a construir o ninho em ambiente tão populoso.
A preparação do ninho poderia esperar um pouco mais. Do lado de fora, eles encontrarão lugar com mais privacidade.
O dia da soltura amanheceu coberto por neblina, mas nada que atrapalhasse a festa já programada.
Sabemos que, em liberdade, não conseguiremos mais monitorá-los individualmente, mas isso não importa. Eles não precisam mais de cuidados, além da alimentação servida todos os dias.
As visitas ao interior do viveiro continuaram acontecendo por alguns dias após a soltura, principalmente por causa dos banhos diários.
Outros espelhos esperam por eles também do lado de fora, mas é que eles já estavam acostumados com aquela banheira.
Os comedouros também estão por ali.
Sejam felizes, meninos. Que outros, que ainda agonizam nas gaiolas (E alguns ainda insistem em chamar de canto), tenham também uma segunda chance.
As coisas estão mudando, mas ainda falta muito, até o dia em que nenhum animal será escravizado por puro capricho humano.
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