Mulambo é um bem-te-vi. A espécie não sobrevive em gaiolas, mas se adaptou muito bem em áreas urbanas e isso os coloca em rota de colisão com os homens.
Nosso amigo foi acidentado em área urbana, foi resgatado por alguém com compaixão e entregue ao Centro de Triagem de Animais Silvestres. (https://www.facebook.com/cetasmg/)
Ele recebeu tratamento médico, foi recuperado e precisava ser libertado o quanto antes, e de preferência, longe da cidade.
Tivemos o privilégio de receber o garoto, na grande soltura de Fevereiro de 2017. Ele passaria os 30 dias de aclimatação dentro do viveiro, antes de ser libertado.
Deixou a caixa de transporte muito assustado e se refugiou (caiu) em um canto do viveiro. Ali ficou, como se recuperasse o fôlego.
Ele seria o primeiro da espécie que ganharia uma segunda chance em nossas terras. A espécie é muito vista por aqui em época de frutas abundantes.
Eles são também predadores e têm o hábito de saquear ninhos de outros pássaros.
Mas o nosso Mulambo estava assustado demais pra agir como predador. Junto dele, no canto escolhido, um trinca-ferro, também assustado e cansado da viagem.
Depois de alguns minutos recuperando o fôlego, ele passou a observar em volta pra entender onde estava.
Virou-se de frente, como se buscasse uma rota de fuga.
Ouviu o canto de outro bem-te-vi nativo e respondeu à altura.
Assim que se viu descansado, tomou coragem e partiu, refugiando-se nos caibros do telhado do viveiro. Por muitos dias, não conseguimos observá-lo direito, pois ele se escondia ao sentir a presença humana.
Isso era um sinal de que ele estava mesmo acostumado com a vida livre e não tinha sofrido com o cativeiro.
Somente depois de duas semanas foi possível vê-lo mais confiante e tranquilo. Notamos também que ele convivia em paz com os outros pássaros. Tínhamos ali pássaros de tamanho pequeno, alguns ainda em recuperação.
O receio de que o predador se manifestasse era uma constante, mas isso não aconteceu.
Caprichamos no banquete de frutas, para que ele estivesse sempre saciado e não tivesse a necessidade de caçar.
E assim, tranquilo e sem nenhum sinal de predação, nosso Mulambo rompeu os dias de aclimatação.
Registramos momentos de descanso, de tranquilidade, de interação com outros bem-te-vis nativos.
A vocalização é bem característica e atinge altos decibéis. Não é um canto, mas uma forma de indicar sua presença e de demarcar seu território.
Flagramos também alguns voos. A espécie atinge grandes alturas e vive nas copas das mais altas árvores.
Nossos poleiros não eram exatamente o que ele precisava, mas era só uma questão de tempo. Em breve ele estaria livre.
Por 30 dias, procuramos registrar os momentos do Mulambo, em todas as oportunidades em que ele se dispunha a fazer pose para nossa câmera.
Não teríamos a oportunidade de registrar momentos naturais, porque um viveiro, por muito grande que seja, nunca será natural para um bem-te-vi.
Então, valia tudo. Uma coceira, um salto de um poleiro a outro.
O banho de sol era dos raros momentos que poderíamos registrar.
Ele parecia bem, mas estava claro que aquele cativeiro não lhe caia bem (Cativeiro nenhum cai bem pra nenhum animal). O Mulambo jamais viveria preso por muito tempo.
A liberdade pra ele era questão de vida ou morte.
Mas, apesar de todo o desgaste do acidente, do tratamento e da aclimatação, ele parecia bem quando o dia da soltura chegou.
Não conseguimos registrar sua saída, que se deu 2 ou 3 dias depois da abertura da janela.
Mulambo está livre agora. Nosso território é bem grande e ele não precisará mais buscar a sobrevivência nas cidades.
Será, de agora em diante, um legítimo Bem-te-vi caipira.
Vá reencontrar a liberdade, Mulambo. Quem sabe ainda voltaremos a vê-lo? A anilha vermelha será o sinal para te reconhecermos. Pelo menos até agora, você é o único de sua espécie anilhado por essas terras.
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.