Depoimento da Carolina Barcellos, adotante da Lola. Acreditamos que é pelo exemplo que seremos capazes de mudar o mundo.
Exemplos assim fazem toda a diferença. Com este presente, vamos inaugurar no site e no nosso Facebook, um espaço para a divulgação de Depoimentos de adotantes.
Só pra explicar, ela resgatou (A definição correta é resgatar, e não adotar) uma linda cadelinha.
Segue o relato da Carolina e as fotos da Lola, uma singela lobinha de colo de 21 quilinhos, moradora de apartamento.
A carta é longa, mas prometo que será uma forma de entender melhor os cães que moram lá. Sempre que entregava minhas doações para a D. Tereza, saia de lá com a sensação de “tentar enxugar gelo”. Só quem conhece a casa entende o milagre que o Lobo Alfa está tentando operar e como eu acredito, de verdade, que o conhecimento transforma, aqui está a história da Lola.
Quando D. Tereza ainda tinha uma centena de cães e eu estava tentando empurrar uma doação por cima do muro, para que ela pegasse do outro lado já que era impossível entrar, fiquei sabendo de uma cadela “muito quieta que não saía de um cantinho”. Foi assim que Lola me foi apresentada, ensopada de água da chuva, doente e em pânico. A origem da Lola, até onde sei, envolveu um bota-fora, um lote vago e uma caçamba de lixo. Fiz questão de esquecer os detalhes.
Por cima do muro D. Tereza me alcançou aquele resto de cachorro que levei direto para o veterinário. Lola viveu, por um mês inteiro, escondida embaixo da minha cama. Na verdade, só desistiu daquele refúgio quando engordou e não cabia mais embaixo da cama box. Ainda assim, insistia, chorava tentando, até ficar entalada. Nessa época, ela comia até vomitar. Essa era a medida.
Nunca tinha visto um cão em pânico, aos gritos, correndo pela casa em busca de um canto para se refugiar. Medrosa, não permitia a aproximação de ninguém e, embora nunca tenha sequer rosnado, tentava fugir de tantas formas que vários procedimentos no veterinário só foram possíveis com sedação.
Com o tempo, minhas ausências de horário comercial começaram a ser sentidas e mais crises de pânico vieram. Uma vez, cheguei do trabalho e a encontrei dentro da despensa, depois de ter rasgado um saco de café e outro de farinha e ter feito um ninho lá no meio. Perdi a conta dos estragos.
Vencemos as doenças, a carteira de vacinação, a castração e o meu cão de apartamento evoluiu para inesperados 21 kg. E sim, em algum momento, a idéia de devolvê-la passou pela minha cabeça. Mas pensar, escolher e agir são estágios diferentes de uma decisão. Pensei no que tinha ouvido na palestra de uma monja budista, que aquilo em que escolhemos acreditar se transforma em nossa realidade, que a felicidade e o sofrimento não estão nas coisas em si, mas na forma como nos relacionamos com elas, e que a gente precisa escolher todos os dias o lado do bem.
Então, escolhi ser capaz de entender o que é ser indesejada a vida toda, ser negligenciada de forma cruel e, ainda assim, contra todas as possibilidades, sobreviver.
A Lola, em troca, me ensinou a ter paciência, a entender que o outro tem um tempo diferente do meu, que a minha frustração vinha das minhas expectativas e não das limitações dela, que encarar os próprios medos não é fácil para ninguém e que eu também tinha problemas para encarar os meus.
Passados um ano e meio, estamos as duas mudadas. As crises não acontecem mais, sobra ração no prato e os passeios diários são uma festa que começa assim que a porta se abre.
Há pouco tempo, justamente durante um passeio de final de semana, entrei no banco para sacar dinheiro em um caixa eletrônico. Um minuto depois, sem que eu ou qualquer outro cliente do banco percebesse o que estava acontecendo, Lola explodiu raivosa nos latidos mais altos que eu já tinha ouvido, retumbando no prédio, e tentou avançar tão forte que a guia cortou meu braço. Ela impediu um assalto naquele dia.
Por fim, me olhou satisfeita, de peito estufado e abanando o rabo. Ela tinha vencido o passado.
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