Esta mocinha foi encontrada na orla da Lagoa da Pampulha, em uma manhã de sábado, arrastando uma grossa corrente, mais pesada que ela própria.
Tudo indicava que ela havia fugido de casa. Estava triste e assustada, com muita fome e sede.
Mas os sinais da vida são muito óbvios: Não foi bem uma fuga.
O que descobrimos mais tarde nos trouxe a certeza de que ela foi libertada. Em outras palavras, o resgate dela começou no momento em que anjos invisíveis soltaram a corrente e facilitaram a “fuga”.
E é muito fácil perceber isso. Primeiro, porque a tristeza dela era contagiante, o que levantava a suspeita de Babesiose (Tristeza canina).
Uma infestação de carrapatos como poucas vezes se viu dizia muito mais que apenas indicar a origem da doença. Na verdade, a grossa corrente e a infestação indicavam que ela estava largada – leia-se amarrada – num fundo de lote qualquer.
Exames mais aprofundados confirmaram a babésia e mostraram também uma infecção uterina (Piometra) em estágio inicial.
Apesar de tudo isso, ela estava bem, mas seu bom estado não duraria muito. Ela precisaria de cirurgia de emergência e tratamento médico. Sem esse atendimento, morreria em alguns poucos dias, com infecção generalizada.
E, se ela estava largada num fundo de quintal ou canil, é evidente que seus donos não notariam qualquer sinal das doenças. E, se notassem, fingiriam não ver.
Deixariam que ela morresse ali, esquecida. A sua libertação foi a forma pela qual seus anjos fizeram com que ela cruzasse o caminho de alguém que pudesse socorrê-la.
E que fique claro que não queremos encontrar os donos, a não ser para que respondam pelo abandono, que aconteceu muito antes dela ter caído nas ruas.
Para ela, a vida mudou e não há a hipótese de deixarmos ela voltar para o abandono do qual foi libertada.
Naquele mesmo dia, recebeu o nome de Pam, uma referência à Pampulha, onde foi encontrada.
Pam é uma cadelinha jovem. Tem tudo pra se recuperar e retomar o caminho evolutivo que lhe foi traçado.
Terá tudo o que nunca teve e esquecerá o passado. O tratamento teve início com remoção dos parasitas e aprofundados exames, além de um bom banho, é claro.
Apenas dois dias depois do resgate, já livre dos carrapatos e do peso daquele pelo sujo, ela já dava sinais da profunda transformação que se iniciava.
Já nos recebia com festa e ensaiando brincadeiras. O rabinho não parava de balançar, como se agradecesse a mudança de vida.
Pam foi operada e castrada. Fez todos os exames, inclusive o de Leishmaniose, que deu negativo.
Teria pela frente algumas semanas de antibióticos e vitaminas, mas já àquela altura, ela já tinha se transformado.
Nas visitas, ainda na Clínica, ela nos recebia com festa e pedindo carinho, o que era um sinal bem promissor.
Às vezes, mostrava-se um pouco desconfiada, mas aceitava os afagos sem qualquer resistência. Mostrava também não temer uma nova agressão.
Nova sim, pois, durante os atendimentos, foi possível notar um enorme inchaço no pescoço. Por recomendação médica, aproveitou-se a anestesia da cirurgia para extrair um pouco do material e remeter para análise.
E o resultado foi triste, pra dizer o mínimo. Tratava-se de um edema inflamatório, bem intenso, provavelmente causado por uma forte agressão. Tudo indica que foi um chute ou uma vassourada, de baixo pra cima, que poderia ter lhe quebrado o pescoço.
Não é possível imaginar o quão grave deve ter sido o que ela aprontou pra merecer tão grande castigo. Mas é claro que nada que ela tivesse feito justificaria. Mesmo sem saber o que ocorreu, sabemos ao certo que ela não mereceu.
Essa história triste ficou no passado, mas rendeu a ela mais algumas semanas de anti inflamatórios. Três dias depois da cirurgia, ainda com uma extensa receita médica, ela teve alta e foi conhecer seu novo lar, que era temporário.
E foi aí que ela começou a aprender coisas novas, coisas que não conhecia. Aprendeu que cachorro foi feito pra dividir o ninho com os donos, pra viver dentro de casa, pra ganhar biscoitos de polvilho e pra dormir em caminha bem macia.
Aprendeu que uma amizade sincera é a garantia de uma vida feliz. Que tranquilidade e segurança são essenciais pra qualquer lobinho, e que colo é a melhor coisa do mundo.
Finalmente, Pam estava para adoção. É uma cadelinha esperta e arteira. Está feliz e adora companhia, seja de pessoas ou de outros cães.
Estava castrada, vermifugada e com vacinação iniciada. Tinha também exame negativo para Leishmaniose.
Tínhamos a oferecer uma cadelinha pra dentro de casa. Ela já havia passado tempo demais amarrada em um canto qualquer. Precisava agora de donos de verdade, que a recebessem como parte da família, e que dessem a ela o direito a uma caminha bem ao lado da cama dos donos.
Mas a vida costuma ser generosa e dar a eles até um pouco mais. A recepção foi das melhores que já assistimos.
Mas, em território onde já habita outra lobinha, as boas vindas à recém-chegada deve ser dada intensificando o carinho da dona do território. Havia ali sinais de que a nova família da Pam entende bastante de lobos.
Kate é o nome da irmãzinha da Pam, uma Poodle também adotada, quase uma senhorinha.
Não ouvimos uma só palavra neste encontro, mas elas não eram necessárias. Promessas foram feitas, pactos foram fechados e uma lobinha que um dia cresceu na ponta de uma corrente, descobriu um novo mundo.
Descobrimos que ela não terá uma caminha só dela, como sonhamos um dia, mas terá que dividir o ninho. E o que pode ser melhor para uma lobinha como a Pam, que dormir na cama com os donos?
Era isso, mocinha, o que aqueles anjos que te guiaram tinham planejado. Muitas vezes, os protetores que agem no plano físico só descobrem os planos dos anjos quando eles se realizam. Pra você, o futuro chegou.
A saudade vai doer por alguns dias, e sabemos que em você também. Ficará uma grande torcida para que as profecias se cumpram. Seja feliz, Pam.
Na despedida, alguns biscoitos caninos foram a estratégia perfeita pra ela não perceber nossa partida.
Fica registrado nosso muito obrigado ao Gabriel e Cecília, pela acolhida da Pam. Que ela leve à casa de vocês a alegria que ela nos trouxe, desde o dia do resgate.
Pam ganhou também outro nome e será chamada de Maya. Abaixo, as primeiras fotos da criança na nova casa, já totalmente adaptada.
Atualizaremos essa história sempre que recebermos notícias e fotos da criança.
ATUALIZANDO. Agosto de 2018, um ano depois da adoção, recebemos novas fotos da Pam, hoje chamada de Maya.
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.
Comentários / Mais informações sobre o anúncio devem ser obtidas com os anunciantes, no telefone ou e-mail indicados acima.