O gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) é um marsupial comumente encontrado no Brasil inteiro. Vive em vários ecossistemas, além de se adaptar muito bem às áreas urbanas. E por causa dessa extensão territorial, acabou ganhando muitos e diferentes nomes.
Em uma boa parte do Nordeste brasileiro, é conhecido como timbu ou cassaco. Nas regiões Norte e Sul, é chamado de mucura. Na Bahia, vários nomes pra uma só criatura: sarigué, sariguê, saruê ou sarigueia. Em Mato Grosso e também no Paraguai, é conhecido como Micurê.
O nome gambá tem origem na língua tupi-guarani e significa “mama oca”, uma referência ao marsúpio, a bolsa ventral onde se encontram as mamas e onde os filhotes vivem durante parte de seu desenvolvimento.
Habitam diversos ecossistemas e já se adaptaram também em áreas urbanas.
Porém, essa aproximação com os homens nunca traz bons resultados para os bichos. Eles são vítimas de ataques de animais domésticos, atropelamentos (A espécie é a maior vítima de atropelamentos nas estradas brasileiras), acidentes em redes elétricas ou mesmo agressões gratuitas, de gente ainda sem compreensão sobre a vida.
Muitos deles chegam ao CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres – IBAMA e IEF), muito debilitados e machucados.
Muitas vezes as fêmeas chegam mortas (ou muito machucadas), mas recheada de filhotes no marsúpio (bolsa na qual carrega os filhotes e onde se completa a gestação). E os veterinários, biólogos e voluntários do CETAS precisam se desdobrar para assumirem o papel de mães, alimentando-os com mamadeiras ou até aquecendo-os contra seus próprios corpos, para que eles tenham uma chance de chegarem vivos até a idade de se tornarem independentes.
A reprodução da espécie acontece predominantemente entre Setembro e Maio. A gestação dura apenas de 12 a 14 dias, mas isso porque eles nascem quando são ainda embriões e continuam o desenvolvimento no marsúpio.
Na bolsa, eles passam mais 46 dias e depois migram para as costas da mãe. Com 4 meses eles já estão independentes e podem seguir os próprios caminhos.
Quando adulto, o gambá-de-orelhas-brancas é solitário e tem hábito noturno e crepuscular. Geralmente busca abrigo entre ocos de árvores, raízes ou embaixo de troncos caídos. É um animal onívoro e se alimenta de praticamente de tudo, de raízes, frutas, vermes, insetos e moluscos, até anfíbios, serpentes, lagartos e aves.
Em Janeiro de 2017, recebemos uma turminha. Todos eles cresceram órfãos, mas receberam os cuidados necessários e já estavam aptos a serem reintegrados à natureza.
Eram nove gambazinhos e o nosso território oferecia tudo que eles precisavam. Chegaram pelas mãos de uma equipe de biólogos e veterinários do CETAS.
Fomos até o fundo do vale, onde eles encontrariam fonte de água e muita proteção, já que ali estariam cercados por densa área de mata, com muitas frutíferas à disposição.
Como são animais de hábitos solitários, era de se esperar que se espalhassem assim que ganhassem a liberdade.
E assim aconteceu com a nossa protagonista, a quem demos o nome de Pancinha.
Ela e o Alfredinho, os dois jovens adultos, assim que deixaram as caixas de transporte, cuidaram de buscar refúgio na mata.
A temporada de acasalamento ainda não tinha chegado ao fim, mas eles eram jovens e estavam assustados demais pra pensarem em assumir compromissos tão cedo.
Talvez eles venham a se encontrar na próxima primavera, mas no momento, o território é grande demais e poderão, cada um, fixar morada em um pedaço da floresta.
Aqui eles são bem-vindos e não correrão os riscos dos centros urbanos.
São pequenos, raramente chegando aos 3 quilos. Mesmo assim, temos trabalho pra eles.
É uma espécie considerada importante dispersora de sementes, pois consome grande variedade de frutas e as sementes passam por seu intestino conservando ainda a capacidade de germinação. Por isso, mais que bem-vindos, eles são úteis e estão aqui pra ajudarem no reflorestamento natural de áreas devastadas.
Se as pessoas entendessem a importância de cada espécie no delicado equilíbrio do Planeta, não cometeriam tantas atrocidades.
Além dos dois adolescentes, outros sete irmãozinhos, com idade de 4 a 5 meses, já independentes, chegaram feito bichinhos de monte.
Os primeiros momentos de liberdade foram tensos e eles se mantiveram juntos. Ficaram por ali por uns 30 minutos, até começarem a se espalhar.
Aos poucos, um a um, eles foram se dirigindo para o interior de uma moita de bambus, encontrando o esconderijo certo pra esperarem o cair da noite.
Não temos muito mais o que mostrar. A soltura precisa ser rápida e com o mínimo possível de presença humana. A equipe precisa ficar por ali apenas o tempo necessário para se certificarem de que ficarão bem.
Assim que eles sinalizam que “estão em casa”, é hora de nos afastarmos e deixar que a natureza se recupere sozinha.
Que eles sigam em paz, que encontrem novos caminhos, que se mantenham longe dos homens e dos lobos, e que nunca se aproximem de uma estrada.
Provavelmente, nunca mais os veremos e, se os reencontrarmos (morando no forro da casa sede), não seremos capazes de reconhece-los.
Mas isso não importa. A passagem desses pequenos por nossas vidas teve um propósito, o de produzir essa história e despertar as pessoas para a necessidade da preservação de todas as espécies.
Desse momento em diante, os propósitos são outros, ditados pela vida e pelos anjos. Eles seguirão o caminho evolutivo de acordo com o estágio em que se encontram.
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