A espécie não tem dimorfismo sexual, mas descobrimos mais tarde que se tratava de um casal. Então, demos a eles os nomes de Romeu e Julieta.
São territoriais e geralmente dividem o território entre os casais dominantes. Os filhotes, depois de crescidos, são expulsos do território e partem rumo a outras fronteiras.
Outros tucanos já foram soltos em nosso território mas, das outras vezes, os novatos acabavam buscando outro território, pois o nosso já estava ocupado.
Nossos dois personagens chegaram por aqui em uma manhã de sexta-feira, em plena primavera, época de acasalamento pra muitas espécies.
O primeiro a deixar a gaiola foi o Romeu, que voou até um arbusto baixo mais à frente, muito diferente das grandes alturas que os tucanos costumam romper.
Estava claro que ele tinha todas as habilidades preservadas, mas o tempo de cativeiro havia enfraquecido suas asas.
Seriam necessários alguns exercícios livres pra recuperar a forma que um dia devem ter tido.
Julieta estava ainda mais cansada e parecia ter passado ainda mais tempo em escravidão.
Levou alguns longos minutos avaliando o ambiente externo. Bem à sua frente, uma imponente mata que forma a encosta do vale.
Ainda assim, ela não parecia muito interessada.
Deixou a gaiola caminhando, sacudindo as penas, mas sem fazer menção de usar as asas.
Enquanto isso, Romeu esperava por ela mais adiante. Na verdade, estava cedo demais pra eles formarem um casal. A prioridade, no momento, era se recuperar e se aclimatar ao ambiente.
E ele estava ali descansando e sentindo o que seria sua nova casa. Não havia telas, grades, correntes em sua perna e nada das atrocidades que viveram.
Num primeiro momento, não esperávamos que eles se unissem, mesmo porque, até aquele momento, nem sequer sabíamos que eles era um casal.
Durante um longo tempo a Julieta manteve-se no chão, sem nem sequer tentar bater as asas. E isso é um grande problema.
Os veterinários e biólogos do CETAS, responsáveis pela soltura, chegaram a cogitar a possibilidade de abortar a soltura dela, pois a Julieta não se dignou, sequer, a abrir as asas.
Infelizmente, uma soltura somente pode ser considerada realizada depois que o animal sai do alcance das mãos humanas. Só assim se tem a segurança de que ele tem uma chance de vida livre.
Mas para a alegria da plateia, aquela passividade era apenas um descanso. Ela estava bem e logo nos mostraria que aceitava a liberdade que lhe era oferecida.
Ganhou os galhos de uma árvore alta e ali ficou. Finalmente, estávamos diante de aves livres. Ainda fracas, mas livres. A aclimatação poderia levar alguns dias.
Deixamos o santuário, dando ao Sr. Irineu a incumbência de espalhar frutas no entorno da área de soltura dos bicudos.
E assim se fez. Eles permaneceram ali. Nos dias seguintes, eles se uniram e disputaram, no bico, o território que lhes oferecemos.
Ganharam a disputa contra um casal nativo, que migrou para o alto da montanha. A união dos dois foi o sinal de que tínhamos um casal.
Dois meses após a soltura, eles já estavam totalmente adaptados, frequentando as frutíferas no entorno da casa sede.
Fixaram morada ali e são agora os reis do território. Não caminham mais pelo chão, mas ainda não os vimos cortando o céu em grandes altitudes. O tempo lhes mostrará o caminho.
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