A quem acompanhou, os trabalhos junto à Sociedade Mineira Protetora dos Animais tiveram início em Janeiro, quando as portas nos foram abertas e decidimos então mostrar uma verdade muito triste, mantida escondida atrás de muros azuis, recentemente pintados.

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Depois desta primeira matéria, outros grupos se uniram em prol dos animais. Tivemos a Parte II, com o mutirão de vacinação, realizado com recursos doados pela AMAA (Associação Matozinhense de Amparo a Animais), e a Parte III, com o mutirão de tosa, organizado pelo grupo SOS Bichos.

http://oloboalfa.com.br/smpa-parte-ii-vacinacao/

Assim que os primeiros animais foram tosados, acreditamos que a próxima etapa seria partir para as feiras, visando reduzir o número de animais abrigados, tornando o abrigo viável, do ponto de vista da qualidade de vida para os que lá ficassem.

Então, deparamo-nos com um grave problema. Uma grande parte dos animais não estava castrada, porque o convênio que antes existia com o CCZ havia sido suspenso, não se sabe o porque. Ainda assim, haviam muitos castrados e prontos para adoção, mas eram exatamente aqueles que sobraram, que ninguém quer.

A SMPA não tinha recursos para promover as castrações, nem tampouco poderia usar o próprio bloco cirúrgico, que encontra-se interditado. Era preciso encontrar uma solução urgente, ou todo o trabalho iniciado ficaria engessado e impossibilitado de prosseguir.

Apesar de tudo disso, a campanha havia funcionado e os resultados já eram positivos. Mais de 70 animais haviam deixado o abrigo em apenas 3 meses, alguns adotados, outros retirados de lá por protetores e clínicas veterinárias que aderiram às nossas campanhas.

Entretanto, os problemas continuavam os mesmos e, outros continuavam chegando. Precisávamos de castração em massa.

As primeiras castrações foram realizadas na UFMG, através de um programa de castração gratuita para animais carentes. Os professores responsáveis abriram as portas para os animais da SMPA, dando-lhes um tratamento que nunca tiveram. Foram operados e receberam até mesmo os medicamentos para o pós cirúrgico. Que fique aqui registrado nosso agradecimento aos Professores responsáveis por esse projeto.

Em outro norte, a SMPA contou também com o apoio de pessoas ligadas à administração pública municipal. O convênio com o CCZ para as castrações em massa foi retomado e as cirurgias voltarão a acontecer a partir de 15/05/2013.

Infelizmente, neste mês de Abril, as adoções por lá caíram muito. Talvez porque não soltamos uma matéria de peso, ou porque as pessoas se esqueceram mesmo. Muita gente que, por um instante, decidiu adotar um animal da SMPA, acabou adiando um pouco as ações.

Entre a decisão e a ação vai uma distância muitas vezes intransponível. E até que essa distância seja rompida, os animais continuarão morrendo.

Mais uma vez, lembramos de nossa campanha “Veterinários do Bem”. Não tivemos a adesão que esperávamos, mesmo entendendo que muitos veterinários do bem já estão com suas clínicas abarrotadas de animais resgatados. São “do bem”, independentemente da adesão a esta campanha específica. Mas não custa renovar o convite, citando como exemplo as duas clínicas que se uniram à causa.

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Resta agora intensificar a campanha de adoções. Pra isso, precisamos dos grupos experientes em feiras, que disponibilizem vagas em seus eventos, para animais da SMPA.

Hoje já existe uma quantidade razoável de animais na SMPA castrados e vacinados, prontos para adoção. Tivemos o privilégio de conhecer, ou reencontrar  alguns deles esta semana.

E, pra não deixar a sociedade humana esquecer o que está por trás daqueles muros azuis, tentamos organizar uma galeria, que chamaremos de “OLHARES”.

Tentaremos, nas próximas linhas, mostrar e descrever um pouco do que vimos e sentimos em nossa última visita à SMPA.

Logo na entrada, tem um canil com animais que lá estão há mais tempo. Eles já estão vacinados, castrados e desparasitados. Como de costume, entro no canil, sento junto aos cães e espero que se acostumem com minha presença, para só então iniciar as fotos. Assim, eles ficam mais calmos e conseguimos melhores poses.

Muitas vezes, precisamos assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. Isto porque alguns reivindicam atenção e carinho, o que nos ocupa uma das mãos. Com a outra, preciso posicionar a câmera e tirar as fotos, quase sempre sem ângulo, isso quanto não preciso me segurar diante de uma lambida na nuca ou de uma mordiscada na orelha, coisas muito comuns em um abrigo de animais.

Decidimos também que, de agora pra frente, todos os animais receberão nomes, ainda que escolhidos na montagem da matéria. Não importa que eles não saibam, nem que os funcionários da SMPA não consigam identificá-los pelo nome. Mas eles terão nomes, mesmo que provisórios.

Cada um deles é especial e, de agora em diante, pelo menos nas matérias que publicarmos, eles serão identificados. Ganharão mais que um nome. Terão uma personalidade, que procuraremos descrever. Tentaremos conviver com eles o tempo que for necessário pra conseguir identificar suas características, sua personalidade.

E, pra começar bem, este é o Gato. Assim que me sentei dentro do canil, ele foi o primeiro a se aproximar. Começou a se esfregar em minhas pernas, exatamente como fazem alguns felinos.

Assim que terminei de preparar a câmera, decidi retribuir o carinho e afagá-lo. Mas bastou encostar as mãos no pescoço dele para que o sujeito se jogasse no chão. Chegava a agarrar meu braço com as patas, como se quisesse prolongar aquele momento.

Isso foi na quinta-feira, dia 18/04/13. Se dependesse dele, eu estaria lá até agora.

Bigode e Barbicha são estes dois lobinhos de pelo aramado. Eles não quiseram se aproximar, mas se mostraram calmos diante de minha presença. Até aceitaram carinho, mas sem muita empolgação.

Vez ou outra se aproximavam com cautela, mas quando eu fazia menção de estender os braços, eles se afastavam. Estão na SMPA há alguns anos e não sabem que existe um mundo diferente do lado de fora.

Este amarelo abaixo é o Marley. Ele só se levantava pra deitar em outro canto, quando eu tentava interagir. É outro que não sabe o que é ser um cão de estimação. Acho que nunca soube, embora, pelo tempo em que está no abrigo, já dava pra ter esquecido qualquer coisa boa.

Ele parece ser um mestiço de Labrador, porém menor que o original. Deve pesar em torno de 15 quilos. Apesar de tudo, não é agressivo. Temos a convicção de que, com alguns poucos petiscos, ele será capaz de se afeiçoar a um novo amigo. Traz a docilidade dos Labradores estampada nos olhos.

O Raposinho é chamado por lá de Chico. Ele já é conhecido. Foi dele a foto que usamos como banner inicial para a primeira matéria que soltamos da SMPA.

Mesmo famoso, ainda não conquistou ninguém. Ele é dócil, permite a aproximação, aceita os afagos e até retribui. Mas não é de fazer festa, talvez em razão da idade. Ele já é um jovem senhor.

Da primeira vez que o fotografamos, ele estava com uma pequena infecção em um dos olhos. Desta vez, a infecção já não existia mais. Notamos que ele é um pouco vesgo, embora tenha visão perfeita.

A grande mudança que notamos foi sua tristeza. Está no abrigo há muito tempo e já deveria ter se acostumado.

Mas ele se mostra descrente. É que, quando o fotografei pela primeira vez, prometi a ele, bem baixinho, que sua vida iria mudar. Não cumpri a promessa e ele parece não acreditar mais em mim.

Sua expressão corporal era clara: __ Quer fotografar, fotografe. Mas não espere que eu faça poses.

Estava quieto quando entrei e permaneceu deitado, no mesmo canto. Não se levantou enquanto estive dentro de seu canil. A promessa continua de pé Chico. Vamos ver se dessa vez dá certo.

O Cabeludo também está no mesmo barco do Chico. Ficamos nos perguntando como um cachorro desse ainda não foi visto. Ele está logo na entrada, pedindo pra ser adotado, mas não encontra pretendentes. Já perdeu a conta dos anos em que espera adoção.

Sua tristeza é contagiante.

Este pretinho, que chamaremos de Roni, tem um defeito em uma perna. Ele anda sem apoiar em uma das patas dianteiras. Também é arredio e triste. Mesmo ficando um bom tempo dentro do canil, esta foi a única foto que consegui dele. Na verdade, tirei várias, mas todas iguais.

No antigo canil dos filhotes estão os adolescentes e miúdos.

O pretinho de olho furado é o Bil. O Pinscher marronzinho chamaremos de Costela, e o mestiço de Poodle de orelhas em pé vamos chamar de Morcego.

Dos três, o Morceguinho é o mais atirado. Ele ainda é filhote e, por isso mesmo, muito brincalhão. Ideal para casas com crianças ou outros cães. Joga-se no colo dos visitantes ao menor sinal verde. Basta um pouco de atenção pra ele se entregar. É de porte pequeno e viveria muito bem em apartamento.

Já o costela tem medo da vida. Aceita afagos, mas não tem energia pra disputar o colo com os outros. Ele está visivelmente debilitado e seus olhos parecem lacrimejar. Os ossos estão salientes, mostrando o que acontece com um cãozinho de raça frágil, quando cai em um abrigo de animais.

Mas a grande surpresa do canil é o Alfredo. Quando entrei, ele não me deu a mínima confiança. Sentei nos fundos, fotografei os outros e tirei algumas fotos dele. Ele estava no portão, alerta, como se esperasse a volta dos donos. A cada barulho no portão principal ele se levantava, chorava, latia e abanava o rabinho.

Cheguei a pensar que não conseguiria boas fotos dele e não teria muito o que falar pra ele.

Mas aí, depois de um bom tempo vigiando a entrada do pátio, ele cansou, foi até a água, bebeu uma boa quantidade e, só aí, percebeu minha presença.

Veio até mim e pulou em meu colo, sem nenhuma cerimônia, como se eu fosse um dos cachorros do canil que já estivesse ali há vários dias.

É preciso explicar que o privilégio de encontrar criaturas assim é de todos. Qualquer um que visitar um abrigo de animais será recebido assim. Existem criaturas únicas, em cada um dos canis.

Com isso, esperamos que dessa vez, a vontade de adotar e salvar uma vida não fique apenas na intenção. A SMPA está aberta e pronta para receber pretendentes à adoção.

Os animais que lá estão não têm tempo. A espera é de uma angústia sem fim. Passam os dias esperando por novos donos, sem saber se sobreviverão à próxima noite. Eles dormem em caixas de plástico. Casinhas e cobertores são luxos que animais de abrigos não conhecem.

Com o inverno que se aproxima, muitos não chegarão vivos ao próximo verão. Morrerão de frio, de gripe, pneumonia ou qualquer outra doença oportunista. Claro que o estresse daquela vida os deixa sem resistência, o que agrava ainda mais a situação.

No canil das fêmeas médias, encontramos também algumas criaturas únicas.

A primeira a me cumprimentar fazendo festa foi a Luíza, esta pretinha regateira. Chegou pulando e, enquanto eu estivesse com a mão em sua cabeça, ela não sairia daquela posição.

Não importava pra ela o incômodo e o excesso de peso nas pernas traseiras. Um afago vale qualquer sacrifício.

A Pantera é esta lobinha tigrada. Ela é arredia e desconfiada, pelo menos foi o que me pareceu no primeiro instante. Chegou a latir pra mim, mostrando os dentes. Mas descobri também que ninguém pra ela é estranho por mais de dois minutos.

Bastou um chamado para que ela viesse a mim fazendo a maior festa do mundo. Aqueles latidos e rosnados, na verdade, tinham outro significado: __Ei! Não vai me dar atenção não?

Se eu tivesse me sentado no chão, ela teria deitado no meu colo. De arredia ela não tinha nada. É pura carência.

O mesmo aconteceu com a Lena. A sorte dela é que os adoradores de lobos não têm medo de dentes. Diante de uma boca aberta como aquela, o melhor a fazer é oferecer os dedos. Quer morder? Então morde.

É o suficiente pra quebrar todo o clima. Ela é ainda mais dócil e carente que a Pantera, incapaz de morder quem quer que seja. Mas pode ser uma amiga fiel e protetora. Falta-lhe a oportunidade.

Lena e Pantera chegavam a disputar a atenção. Afinal, com uma das mãos manuseando a câmera, elas teriam que revezar pra ganhar carinho.

Naquele canil, só uma lobinha não me deu nenhuma bola. Pipoca é esta lobinha cor de burro fugido e boca preta de vira-lata legítima. Ela não pulou em mim, mas bastou a chegada da Nélida pra ela mostrar a cara.

Pipoca e Leninha são ótimas lobinhas. Muito carentes e pedem atenção o tempo todo. Mereciam deixar aquele lugar.

Laranja é esta cadelinha de pelo curto, também dócil e carente. Ela não é de fazer festa e parece não ter mais energia para brincadeiras. Mas só parece. Ela não é muito velha e só precisa de uma ração melhor e atenção dos novos donos, pra se transformar.

Depois do canil das fêmeas, invadimos a maternidade. Infelizmente, apesar de todos os filhotes que foram retirados de lá por protetores, os pequeninos continuam chegando, ou mesmo nascendo.

Kate é a única fêmea em lactação. Ela chegou por lá prenhe e os pequenos nasceram há poucos dias. São 9 lobinhos, de todas as cores. Não vi nenhum parecido com o outro.

Nunca vou esquecer o olhar desta cadelinha enquanto eu tirava as fotos. Ela parecia querer me perguntar o que eu iria fazer com seus filhos.

Na verdade, a pergunta era outra. Eu estava ali apenas para fotografá-los. Ela talvez quisesse saber o que será deles. Mas esta pergunta eu não saberia responder. Desde que ela chegou, assistiu muitas baixas naquela maternidade. Viu ninhadas inteiras sucumbirem.

Se eles são capazes de tanto raciocínio, não sabemos. Talvez saibamos, mas como o objetivo aqui é sensibilizar humanos, nada nos impede de humanizá-los e atribuir a eles pensamentos e sentimentos exclusivamente nossos.

O fato é que estas fotos mostram desesperança, medo e insegurança. Isso sabemos que eles são capazes de sentir.

Entre os crescidinhos, tem lobinhos saudáveis, espertos e brincalhões, mas tem também lobinhos que talvez não estejam mais vivos quando soltarmos esta matéria.

Dentre os mais espertinhos, tem um pequeno tricolor que chamamos de Flu, e uma menina multicolorida, com um olho azul e outro preto. A ela demos o nome de Blue.

O Pretinho com amarelo não sabemos se é menino ou menina. Melhor chamá-lo de Darci.

Tem também um lobinho espetado. Pelo apetite e a desenvoltura dentro da vasilha de ração, temos a certeza de que ele está no ponto pra começar nova vida. Resolvemos chamá-lo de Espeto.

A disposição para as brincadeiras começou pelo meu sapato.

Para as batalhas e para o descanso, a disposição era a mesma.

Já estávamos pra terminar as fotos na maternidade, quando surge na porta um lobinho cheio de cores. Ele nem me deu tempo para fotografá-lo e já se virou para voltar ao refúgio de onde havia saído. Parecia ter chegado apenas pra ver o que estava acontecendo.

Claro que fui atrás dele. O encontrei deitado nos fundos do canil, atrás de um cano de esgoto.

Junto dele, no mesmo canto, um pequenino com a cara amassada, bem miudinho.

Assim que terminei de fazer as fotos dos dois escondidos, uma terceira lobinha apareceu, vinda sei lá de onde, e deitou junto aos dois.

Depois me olhou, esperando pelo click da máquina. Parecia dizer: __Veja, eu tenho uma estrelinha na testa. Será que tenho alguma chance? Você pode tirar uma foto minha?

Demos a ela o nome de Estrelinha.

Mas, não muito longe dali, em outro canto do canil, as histórias caminham para um desfecho trágico.

Nem todos os lobinhos estavam espertos e ativos. Alguns, visivelmente debilitados, nos mostravam que não iriam longe. Eles talvez tivessem uma chance, se fossem retirados de lá.

Os mais espertinhos, em mais alguns dias, talvez estejam também assim.

Este canil, chamado de maternidade, além dos filhotes, abriga também suas respectivas mães e outras mães de filhotes que não estão mais ali.

Enquanto eu tentava fotografar os filhotes, me afastei e sentei no degrau do canil. Então, senti um bafo quente em minhas costas e, em seguida, uma lambida na nuca e algumas mordiscadas na orelha.

Ao olhar pra trás, encontro esta criatura, a quem chamarei de Pink. Ela se agarrava em meus braços pra pedir atenção e, quando me virava pra voltar a focar os filhotes que brincavam no chão logo à frente, ela só faltava sumir na minha cabeça.

Não sei o que ela está fazendo ali. Não havia nenhum filhote que parecesse com ela. Talvez seus filhotes já tenham sido adotados, ou não sobreviveram. Ela não parece ter mais de um ano de vida.

As outras mães ainda estavam lá. Já não amamentam mais, mas seus filhotes, um de cada mãe, continuam por ali, embora muito fraquinhos.

Estão tomando soro, pra vencer a desidratação e sabe mais lá o que mais. As mães parecem conformadas. Afinal, ali elas também precisam lutar pela própria vida. Pimenta e Bicuda foram os nomes escolhidos pra elas.

Percorremos os canis dos fundos, apenas pra não retirar daqueles que lá estavam a oportunidade de serem vistos. Esses canis são menos visitados. Talvez por isso, ali estão os animais mais tristes.

Encontramos cães que, com um bom tratamento, seriam facilmente adotados, mas que vivem ali esquecidos, escondidos. E eles parecem saber disso.

Chamamos estes dois garotos de Pimpão e Bimbo

O Lanterna é este cão amarelo de pelo curto. Ele é dócil e aceita afagos. Apenas não se impõe. Não deve se lembrar como é a textura das mãos humanas.

Raul é um ótimo cão para dar sinal. Ele é atento e deixa claro a visitantes que em seu território ninguém entra.

Mas essa valentia toda termina assim que colocamos o focinho pra dentro do canil. Apesar da aparência nervosa, sabemos que isso é tipo. Ele está pronto para se render, como todos os outros.

Nesses canis encontramos cães especiais, e também os mais tristes. Não fazem festa, não pulam em ninguém. Parece que estão ali há anos, esquecidos. A chance pra eles é que alguém os reconheça pelo olhar.

O melhor que poderia fazer por eles seria tentar mostrar o que trazem na alma. Pra isso, as fotos precisavam focar o olhar.

Demos a eles os nomes de Lucinda, Beto, Kika e Billy, não necessariamente nessa ordem, principalmente porque não conseguimos lembrar ao certo qual é macho ou fêmea.

E, ainda falando em canis dos fundos, garimpamos este Poodle, chamado Lippe. Ele é muito dócil e, ao contrário do que se pode esperar, parece feliz.

Ficou todo o tempo sorrindo, fazendo pose para a câmera e me seguindo. Talvez não tenha se dado conta de onde está, ou então, deixou um inferno ainda pior.

Ele está um pouco sujo, mas seu pelo não está embolado (ainda) e nem tão grande. Isso nos mostra que chegou por aqui há poucos dias.

Mas, quer seja no canil de entrada, quer seja nos fundos do pátio, sempre encontramos animais raros, dispostos a receber bem os visitantes.

Sarita é uma cadelinha amarela de boca preta, legítima vira-lata de porte médio. Ela não precisa nem mesmo de atenção pra se soltar. Bastou um olhar mais terno pra ela vir pular em mim e ficar mordendo minha camisa e lambendo minha mão.

Nem tudo é tristeza. Luke ,Ted, Nina, Clara, Salomão e Bob, apesar da timidez, mostraram-se abertos a novas amizades. As pessoas precisam entender que um animal resgatado sabe que está sendo salvo e será eternamente grato a seu protetor. No momento do resgate, nasce um vínculo que durará por toda a vida.

E, para um cão de abrigo, uma adoção equivale a um resgate. Se as pessoas soubessem o que é a relação de um protetor com seu resgatado, os animais dos abrigos seriam disputados a tapa.

A maioria dos animais da SMPA é de cães jovens. Lá são raros os que ficam velhos e, os que já chegam velhos, não costumam durar muito.

Que chance teria um cão como o Bidu? Ele tem nome de cachorrinho de colo, mas é de porte médio a grande, pelo longo e dourado. Já é mais velho e também cego de um olho, aparentemente em razão de um trauma ou de infecção não tratada. Já teve um dono mas, por algum motivo que não é difícil imaginar, foi descartado.

Luna é uma cadela multicolorida. Lembra o Pointer Inglês de pelo curto. Mas na verdade, essa comparação é só vontade de melhorar as chances dela. E espero o dia em que essas estratégias não sejam mais necessárias.

Este cachorrão eu decidi chamar de Pirata. Ele está no canil dos cães grandes. Ali, quem chega está sempre à procura de um cão para guarda, para vigiar empresas e coisas do gênero. Então, os animais parecem saber que a melhor estratégia e ficar na sua e não demonstrar interesse pelos visitantes.

Mas o Pirata está na contramão das regras. Ele chega latindo e abrindo o sorriso mais largo do mundo. Chegava a se esticar pela grade pra buscar minha mão, pedindo afago. É muito triste ver animais tão especiais mendigando carinho.

A adoção do Pirata é urgente. Ele precisa ser retirado de lá por alguém de bem, antes que seja adotado para vigiar depósito de gás ou oficinas mecânicas.

E, pra fechar esta matéria, esta é a Pitucha. Vale a pena estender um pouco mais com ela.

É preciso esclarecer que ela não está na SMPA há muito tempo. Chegou neste estado e já está em tratamento. Mas é certo que teria melhores chances se estivesse em uma boa clínica veterinária.

De qualquer forma, eis sua história, pelo menos a partir de sua descoberta.

Depois que já havia terminado de fotografar em quase todos os canis, decidi entrar no último deles, exatamente naquele de onde eu havia retirado o Guga, que foi resgatado pelo grupo SOS Bichos.

O Guga, pra quem não se lembra, foi um Poodle cuja foto usei na capa da segunda matéria.

Eu o fotografei no dia do mutirão de vacinação. Posteriormente, no dia do mutirão de tosa, já comandado pelas protetoras do grupo SOS Bichos, ele foi procurado mas não foi encontrado. Ninguém sabia dar notícias de onde ele estava.

O mutirão de tosa aconteceu sem que o Guga recebesse os cuidados a que tinha direito.

Dias depois, a grupo decidiu assumiu outros dois cãezinhos da SMPA, e deram preferência para duas fêmeas que haviam sido tosadas no dia do mutirão. Mas como uma delas havia sido adotada, então me ofereci para ir lá e procurar pelo Guga.

Procurei muito, até encontrá-lo no último canil, deitado imóvel dentro de uma caixa plástica, escondida em um canto. Descobrimos mais tarde que ele era antigo na SMPA, já era velhinho e só tinha dois dentes na boca. Era muito arredio e não confiava em ninguém. Ficava todo o tempo escondido nos fundos do canil. Por isso, nunca foi visto e jamais seria adotado.

Ele foi salvo. Foi assumido pelo grupo SOS Bichos, levado para a Clínica Veterinária de Urgência do Dr. Marcelo Lobão, onde recebeu tratamento vip, saindo de lá para uma nova casa, onde começou vida nova. Terá que aprender tudo novo sobre gente, mas já tivemos notícias de que está se adaptando.

Exatamente em razão daquele desfecho, foi que senti o desejo de voltar àquele mesmo canto escuro onde o Guga estava escondido.

E foi aí que conheci a Pitucha. Ela estava deitada na mesma caixa de onde retirei o Guga.

O fato é que a união dos protetores continua sendo necessária. Animais continuam morrendo por lá. As adoções não acontecem como esperávamos e o tempo, pra eles, tem passado cada vez mais rápido.

Não tem um só cachorro ali dentro que não seja especial, que não possa ser personagem de uma história com força pra sensibilizar. Bastam dez minutos dentro de um canil qualquer, pra que eles se apresentem, tal como são.

Um abrigo de animais é um garimpo fértil. Abriga tesouros que só são vistos pra quem tem olhos de ver.

Mas, do lado de fora dos muros azuis, a vida segue desenfreada. As pessoas não têm tempo pra assuntos menores. Adiam as decisões para ocasiões mais oportunas.

Entretanto, para os cães, a vida é uma espera sem fim. Alguns correm para o portão do canil ao menor ruído, como se esperassem por alguém. Eles não sabem que a sociedade humana não tem tempo pra cachorro de rua, pra vira-lata sarnento.

Às vezes, me sinto desanimado, como se estivesse insistindo com coisas inúteis. Mas não quero acreditar nisso. Prefiro achar que, aos poucos, conseguiremos provocar mudanças significativas.

Cada um tem seu momento. Não sei se esta história vai despertar alguém, se vai desencadear um monte de intenções desprovidas de ações, se vai salvar ao menos uma vida.

Mas eu não vou desistir de vocês. Quero passar o resto da vida tentando sensibilizar e despertar novos protetores e novos adotantes. Nesta matéria, utilizamos fotos de 60 animais. São quase 200 os que lá estão.

E, pra começar nossa campanha de adoção, iniciamos com a versão SMPA de “A MAIOR FEIRA DE ADOÇÕES DE TODOS OS TEMPOS”.

Funcionará todos os dias. A ONG estará sempre aberta, de segunda a sábado, estando pronta para receber adotantes ou protetores que se disponham a ajudar de alguma forma.

Contato para adoção: (31) 3433.0900. (09:00 às 11:00 e de 13:30 às 16:00).

Rua Jaguariba, nº 66, Bairro Guarani, em Belo Horizonte.

Horários: de 2ªs a 6ªs, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 16h30.

Sábados: das 9h às 12h.

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